Pesquisa comparativa destaca que geração por hidrelétrica não é "isenta" de poluição

01/11/2007 - 23h56

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Mais de 90% daeletricidade consumida no Brasil é gerada em usinas hídricas– energia freqüentemente citada como “limpa”, em especialporque não emitiria gases de efeito estufa. A comparaçãocom outras fontes muitas vezes confirma as vantagens nesse quesito,mas estudos a partir do início da década de 90começaram a colocar em xeque a idéia de "impactozero" dessas usinas para as mudanças climáticas.

O relatório Emissõesde Dióxido de Carbono e de Metano pelos ReservatóriosHidrelétricos Brasileiros, publicado em 2006 pela ComissãoInterministerial de Mudança Global do Clima conclui que,apesar das comprovadas emissões de gases de efeito estufa,principalmente dióxido de carbono e metano, “em termoscomparativos [as hidrelétricas] são uma soluçãoviável de abatimento das emissões na geraçãode energia”. Mas ressalva que a energia hidrelétrica “nãoé uma fonte isenta de emissões atmosféricas, talqual se afirmava em estudos ambientais da década de 70 e 80”.

O documento, elaborado pelaCoordenação dos Programas de Pós-graduaçãode Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ),traz comparações de emissões de novehidrelétricas brasileiras – Samuel (RO), Xingó (AL,BA, SE), Miranda (MG), Três Marias (MG), Barra Bonita (SP),Segredo (PR), Itaipu (PR) e Serra da Mesa (GO) – com termelétricasde mesmo potencial.

Os dados apontam dois casos nosquais seria melhor a utilização de usinas térmicasno lugar de hídricas para garantir menos contribuiçãopara o efeito estufa: Samuel, que emite 535.407 toneladas de carbonopor ano, e Três Marias, responsável por 540.335 miltoneladas anuais, pelos cálculos da Coppe. Termelétricasa carvão com mesmo potencial energético emitiriam237.492 e 435.401 toneladas anuais de carbono, respectivamente,concluem os pesquisadores.

Nas outras sete usinas analisadas, ageração hidrelétrica é menos prejudicialno que diz respeito a mudanças climáticas que astermelétricas. Caso de Itaipu, por exemplo, que emite 23.497toneladas de carbono por ano em comparação a mais de 13milhões que seriam emitidos por uma térmicaequivalente. Apesar do bom resultado comparativo, juntas, as novehidrelétricas analisadas emitem cerca de 5 milhões detoneladas de carbono anualmente, segundo a Coppe.

Na avaliação dopresidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), MaurícioTolmasquim, essas quantidades são “desprezíveis” econtinuar investindo em geração hidrelétrica éuma solução “indubitavelmente” mais viávelpara o setor energético brasileiro. “É uma quantidadetotalmente desprezível; não é significativa”,avalia.

Para Tolmasquim, as vantagens dashidrelétricas sobre as termelétricas em relaçãoà contribuição para o aquecimento global sãoindiscutíveis. “Não tenho dúvida de que ahidrelétrica é uma energia limpa. Essa discussão[hidrelétricas versus termelétricas] éinteressante do ponto de vista acadêmico, mas no mundo real agente só comprova que a hidrelétrica é maisinteressante que a térmica”.

Menos categóricos,pesquisadores e cientistas ouvidos pela Agência Brasilavaliam que os investimentos em hidreletricidade valem a pena desdeque as usinas sejam bem projetadas e os projetos considerem asfuturas emissões de gases de efeito estufa, além deoutros impactos ambientais.