Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As 66 famíliasde agricultores brasileiros que vivem na Bolívia e que no início deste mês ocuparam a sede do InstitutoNacional de Colonização e Reforma Agrária(Incra) em Brasiléia, no Acre, anunciaram que nãovoltarão àquele país. Segundo uma das líderesdo grupo Maria Benedita Silva de Abreu, a intenção detodos é permanecer na cidade acreana até que ogoverno brasileiro lhes dê terras onde trabalhar e viver."Vamos permaneceraqui até termos uma resposta do governo. Se arredarmos o pédaqui, eles nunca vão nos dar terra. Há muitos anos nosprometem e até hoje não saiu nada", afirmou MariaBenedita.Mulheres, criançase os poucos homens que acompanharam o grupo (a maioria deles ficou naBolívia, cuidando da casa e dos poucos pertences a fim deevitar furtos) estão reunidos no local onde funcionava o clubedo Banco do Acre (Banacre), ao lado da sede do Incra. De acordo com Maria Benedita, faltacomida, e apesar de médicos da prefeitura visitarem aspessoas, há crianças com problemas de saúde,principalmente diarréia.Maria Benedita, quevive há 16 anos no departamento (estado) fronteiriço dePando, resume o que motivou o grupo a voltar ao Brasil e ocupar asede do Incra. "Cansei de pedir socorro e de esperar que alguémme tirasse de lá [da Bolívia]. Se voltarmos, eles [os bolivianos] vão dizer na nossa cara: Cadê o país de vocês que não os acolheu?Mandou vocês de volta? O Brasil é tãogrande, precisa ter um cantinho para a genteaqui."Outro motivo para não retornar à Bolívia, segundoMaria Benedita, é a taxa que imigrantes têm de pagar aogoverno. Segundo ela, funcionários do Departamentode Imigração boliviano cobram dos brasileiros uma taxaanual de 1.015 boliviano, o equivalente a R$ 274, por pessoa. "Issono primeiro ano. No segundo, o valor éde 1.515 boliviano. E, no terceiro ano, 3.015 boliviano. E isso nãodá direito a nada."A brasileira nãosabe dizer se a cobrança da taxa é legal. Segundo MariaBenedita, os funcionários dizem que ela foi estipulada pelogoverno. "Eles nos dizem para pagar, tirar os documentosbolivianos ou retornar ao Brasil. Agora, nós preferimosvoltar. Eu não acho que nossa situação seria mais fácilse nos naturalizássemos. No máximo, deixaríamosde pagar a taxa."Por considerar que asituação do grupo é de extrema urgência, Maria Benedita acredita que o possível assentamento das 66famílias não provocará protestos de outrosmovimentos que reivindicam terras. E pede pressa ao governobrasileiro. "Eu espero que ogoverno olhe para nós e nos ajude, porque todo esse tempo quea gente morou na Bolívia, sem direito a nada, nunca tivemosajuda daqui. E também que mande alimentos para nós,porque estamos morrendo de fome."Por e-mail, aassessoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário(MDA) explicou que o grupo, ou qualquer outro brasileiro que decidirdeixar a Bolívia, não vai receber tratamento diferentedas demais pessoas que reivindicam terras.De acordo com aassessoria, o procedimento padrão do Incra é cadastraras famílias que se enquadrem nos critérios de reformaagrária. "Se estas famílias efetivamente voltaremao Brasil e se enquadrarem nestes critérios, poderãoser atendidas pelo programa de reforma agrária do governofederal. Isso não significa nenhuma preferência sobre asfamílias que já estão hoje na região,aguardando serem assentadas", disse a assessoria.