Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Prêmio Nobel da Paz, divulgado esta semana, destacou o trabalho do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Formado por cerca de 3 mil pesquisadores de diversos países, o painel possui nove representantes de instituições sediadas no Brasil. O pesquisador titular do InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre faz parte desse grupo. "Participamos diretamente da elaboração do relatório sobre mudanças climáticas divulgado este ano", lembra Nobre, para quem o trabalho no Brasil teve um retorno imediato e um efeito multiplicador."O grau de consciência da população sobre essa questão das mudançasclimáticas hoje é muito maior do que há alguns anos e muito disso tem aver com o trabalho do painel. É isso que tem ajudado a dar credibilidadeao fato de que as mudanças climáticas são algo real, preocupante.”
Para o pesquisador do Inpe, formado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e doutor em Meteorologia, o Brasil ainda reluta em tomarmedidas na área de adaptação às mudanças climáticas. Essas medidas aumentariam acapacidade das populações mais vulneráveis de conviver com um climadiferente e a sobreviver aos desastres naturais, como secas prolongadas e inundações."É mais tarde do que nós imaginávamos.Em outras palavras, as mudanças climáticas já se tornaram irreversíveisnuma grande medida", alerta Nobre. "É obrigatório que todos os países,principalmente os países em desenvolvimento, tenham uma agenda muitoforte em adaptação à mudanças climáticas. E essa agenda política deadaptação o Brasil demorou muito mais. Ainda reluta um pouco, mas,finalmente, fala desse assunto.”No que diz respeito à redução nas emissores dos gases causadores do efeito estufa, o pesquisador do Inpe acredita que o Brasil pode assumir a posição de país mais "limpo" do mundo. Para isso, bastaria reduzir os desmatamentos na Amazônia e no Cerrado a índices próximos a zero. "O Brasil é um dos poucos países que estão numa posição única, que são os países que tem muita eletricidade que vem da água, das hidrelétricas. Tem o maior programa de combustíveis renováveis do planeta, que é o etanol", destaca Carlos Nobre.O cientista também atua na Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e preside oComitê Científico do International Geosphere-Biosphere Programme(IGBP). "Estamos numa situação invejável de se tornar o país mais limpo do mundo. Ecertamente, um modelo ao mundo em desenvolvimento de aproveitamento deenergias renováveis.”