Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Centro deTecnologia Mineral (Cetem), do Ministério da Ciência eTecnologia, em parceria com a Carbonífera Criciúma, deSanta Catarina, está desenvolvendo um projeto para combater adrenagem ácida provocada por rejeitos de carvãomineral, que há mais de um século polui a regiãosul do estado. O projeto conta com apoio da Financiadora de Estudos eProjetos (Finep) e está orçado em R$ 1,2 milhão.
A parte principal do projeto, aEstação Experimental Juliano Peres Barbosa, primeiraunidade construída no Brasil com células experimentaise equipamento meteorológico capaz de minimizar os efeitos nanatureza da drenagem ácida, será inaugurada na próximaquarta-feira (17), na Mina do Verdinho, no município deCriciúma. A mina é propriedade da CarboníferaCriciúma, empresa líder do setor de mineraçãode carvão no país.
Um dos coordenadores do projetoengenheiro metalúrgico Paulo Sérgio Soares, informouque a estação tem como objetivo verificar a melhormaneira de reduzir essa drenagem ácida, a partir da coberturadesses rejeitos de forma técnica adequada. “Na verdade[vamos] prevenir a geração dessa drenagem. Issoé feito cobrindo os rejeitos e evitando o contato deles com oar e com a água da chuva”, esclarece.
Como a cobertura dos rejeitos do carvãopode ser efetuada de formas diferentes e com graus de compactaçãodiversos, utilizando mais de um material, como argila, cinzas defundo de termelétrica e solo orgânico, Paulo SérgioSoares explicou que a estação “vai buscar uma maneirade fazer essa cobertura, escolhendo os melhores materiais e asmelhores condições técnicas de aplicaçãodos materiais disponíveis sobre os rejeitos do beneficiamentodo carvão”.
A drenagem ácida de mina éum dos principais problemas ambientais relacionados àmineração de carvão. Essa mistura de ácidoe metais pesados tem caráter nocivo e pode afetar osmananciais e depósitos de água subterrâneos,comprometendo o meio ambiente.
Os resultados que forem obtidos pelospesquisadores na estação experimental poderãoser transferidos para outras mineradoras. O trabalho a serdesenvolvido nessa unidade tem importância local, e ao mesmotempo poderá capacitar os pesquisadores a fazer um“modelamento” de sistemas semelhantes em outras regiões dopaís onde esse problema da drenagem ácida possaexistir, argumentou disse o engenheiro do Cetem. Os primeirosresultados deverão ser obtidos no prazo de três anos.
Os rejeitos da mineraçãode carvão produzidos em 123 anos de exploraçãomineral na região carbonífera catarinense ocupam umaárea superior a 20 quilômetros quadrados. Os efeitos dadrenagem ácida poluiriam a água em 24 municípiosde Santa Catarina, que têm como atividade econômicaimportante a lavra e o beneficiamento de carvão, prejudicandouma população estimada de 650 mil pessoas, de acordocom informação da assessoria de imprensa do Cetem.
“De fato, você tem uma poluiçãodas águas e com isso você prejudica as atividades deabastecimento e de uso para lazer, por exemplo, desses rios, queficam impactados pela exposição inadequada derejeitos”, disse o pesquisador.
Paulo Soares explicou que o agravamentoda questão, do ponto de vista ambiental, ocorreu na décadade 70, quando houve um aumento da mineração do carvãona região. Atualmente, cerca de dez empresas atuam na áreacarbonífera no sul catarinense, sendo que a maioria adotapráticas “mais ambientalmente amigáveis”.
Há também áreasinativas decorrentes da desativação de algumascompanhias, cujos rejeitos de carvão estão expostos aoar e à água a céu aberto desde tempos passados.
O projeto global realizado em conjuntopor técnicos do Cetem e da Carbonífera Criciúmaabrange também estudos de alternativas para tratamento deefluentes dessas minerações, importaçãode sistemas de gestão ambiental, conhecimento da dinâmicadas águas subterrâneas na Mina do Verdinho para sabercomo elas são atingidas pela poluição, entreoutras atividades.
Paulo Sérgio Soares disse que oprojeto pretende também estabelecer parceria com asuniversidades do Sul do país para transformar a estaçãoexperimental num centro de estudos de interesse geral, “que permitaa pesquisadores de outras instituições desenvolver seustrabalhos a partir dos dados que a gente colher”.