Brasil quer rever compromissos com países sul-americanos, diz Amorim

10/10/2007 - 21h25

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo brasileiro quer passar a limpo a agenda de pendências com os países sul-americanos. Em reunião amanhã (11) com todos os embaixadores brasileiros na região, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende rever todos os acordos e compromissos firmados com os países vizinhos desde o seu primeiro mandato. E efetivar as promessas ainda não cumpridas."O presidente tem uma política ativa, afirmativa em relação à América do Sul. O objetivo é ver os compromissos que fomos assumindo ao longo dos anos e que não puderam ser cumpridos e, talvez, alguns projetos novos", explicou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista coletiva hoje (10). "Como o presidente já havia feito em relação a países como o Paraguai e o Uruguai, agora resolveu tomar toda a América do Sul e ver onde estamos em débito, porque é nosso interesse fazer", justificou.Além dos representantes do Brasil nos 12 países sul-americanos, participarão da reunião a partir das 11 horas, no Palácio da Alvorada, o embaixador do Brasil na Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobras e Eletrobrás, e 13 ministros: Celso Amorim, Dilma Rousseff (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Nelson Hubner (Ciência e Tecnologia), Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia), Reinhold Stephanes (Agricultura), Alfredo Nascimento (Transportes), Fernando Haddad (Educação), José Gomes Temporão (Saúde), Tarso Genro (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa). Segundo Amorim, é a primeira vez que um governo brasileiro faz uma reunião deste tipo. Ele informou que terão prioridade questões que podem ser solucionadas no curto prazo, como o pagamento, pelo Brasil, de sua cota de 2007 no Fundopara a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (Focem), até agora não realizado.Também serão abordados, segundo Amorim, os instrumentos para financiar investimentos na região. "O financiamento é hoje um gargalo para investimentos brasileiros, para obras de infra-estrutura e também para a cooperação industrial com alguns países", disse. E acrescentou que devido ao custo desses financiamentos, foi efetivamente desembolsada uma parcela inferior à metade dos US$ 6 bilhões de empréstimos autorizados desde 2003 para investimentos de empresas brasileiras no exterior. "Países como a Guiana e o Suriname, por exemplo, são vizinhos nossos. Além da solidariedade, que é um elemento real que pesa na política, o Brasil têm interesse que esses países estejam mais atraídos para a América do Sul, isso tem implicações em vários terrenos, inclusive econômico-comerciais", exemplificou. A lista de pendências inclui o acordo de Serviços com o Chile, a segunda ponte sobre o Rio Paraguai, a facilitação de ligações aéreas do Brasil com os demais países da região e o acordo de Compras Governamentais do Mercosul, ainda não enviado ao Congresso pelo Executivo. O governo federal ainda pretende analisar medidas para reequilibrar a balança comercial com os países sul-americanos – na grande maioria com saldo amplamente favorável ao Brasil.  "Já tem havido uma tendência de aumentar as importações de alguns países para nós, como Peru e Chile. Com alguns, subsiste um superávit muito grande", avaliou Amorim, ao informar que o saldo comercial do Brasil com os demais países da região aumentou em até 400% desde 2003. "A América do Sul, sozinha, já é hoje um mercado mais importante para o Brasil do que os Estados Unidos", comentou. No âmbito político, Amorim destacou as mudanças na região: "Temos que ser capazes de responder a essas mudanças, defendendo sempre nossos interesses, mas com flexibilidade para compreender a situação de cada país". Sobre a convocação da reunião, pelo presidente Lula, garantiu que "foi apenas motivada pela consciência de que muitos pensamentos às vezes perdem a força e deixam de se traduzir em ação".