Marcos Chagas e Roberta Lopes
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Asessão plenária do Senado Federal foi marcada hoje (9) por uma seqüência deapelos e discursos de parlamentares da base do governo e da oposição para que osenador Renan Calheiros (PMDB-AL) se afaste da presidência daCasa.Mais uma vez, Renan manteve-se irredutível e, da tribuna, disseque "irá até o fim" para provar sua inocência em relação às denúncias que tem recebido desde abril.Entreos peemedebistas, Pedro Simon (RS), Valter Pereira (MS) e GaribaldiAlves (RN) pediram que Renan se licencie do cargo, sob oargumento de ele que não teria mais credibilidade para conduzir ostrabalhos da Casa. "Vossa Excelência não pode colocar a sua decisãopessoal acima do conjunto do Senado. Há uma unanimidade, o Senado estãono chão, há uma crítica generalizada ao contexto geral do Senado",afirmou Simon.QuandoRenan chegou ao plenário, às 16h20, olíder do PDT, Jefferson Peres (AM), já ocupava a tribuna para tentarconvencer os senadores de que o alagoano não tem condições deficar na presidência."No PDT, o sentimento da maioria é de que osenador Renan Calheiros perdeu as condições para presidir o SenadoFederal".Renan tentou mostrar tranqüilidade nos discursos que se revezavam,mas não se conteve em alguns momentos. O peemedebista irritou-se, por exemplo, quando foi lembrado por Aloizio Mercadante(PT-SP) que teria aceito discutir seu afastamento da presidência após oprocesso de julgamento de seu pedido de cassação, caso fosse absolvido. "Eu infelizmente vou me abster do seu discurso e meabstenho de comentar o aparte de vossa excelência" afirmou Renan, deixando atribuna e encerrando o aparte do colega petista.Mercadanterebateu. Já sentado na cadeira dapresidência, Renan ouviu dele que o sentimento para sua saída do cargo é de senadores e senadoras da bancada do PT.Alíder do PT, Ideli Salvati (SC), pediu a palavra e afirmou que, entreos petistas, não cabe uma decisão de bancada a respeito do afastamentoou não de um presidente do Senado. "A regra da Casa é que, mesmo que os80 senadores peçam o afastamento, esta deliberação é do senador Renan",afirmou, reconhecendo, que cresce na bancada osentimento de que, com o senador fora da presidência, ostrabalhos no Senado poderiam fluir com maior tranqüilidade.Eduardo Suplicy (PT-SP), por sua vez, ponderou que, fora docargo, Renan "se forteleceria" para fazer a defesa nas quatrorepresentações que tramitam contra ele, três no Conselho deÉtica e outra protocolada hoje à Mesa Diretora.Umdos personagens da denúncia publicada pela Veja neste fim de semana, Demóstenes Torres (DEM-GO), protagonizou outro momento tenso na sessão. Ele e o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) foram apontados pela revista como vítimas de suposta espionagem promovida por Francisco Escórcio, funcionário do gabineteda Presidência do Senado, afastado hoje por Renan.Demóstenes pediu aos técnicos do Senado que rodassem a gravação deuma conversa telefônica entre um jornalista da Folha de São Paulo e oadvogado Eli Dourado, citado na matéria da Veja.Na gravação, o advogado confirma que Escórcio e oempresário Pedro Abrão tiveram um encontro de cerca de 40 minutos, mas afirma não saber o teor da conversa.Segundo a revista, Escórcio teria procurado Abrão para que elecolocasse câmeras de vídeo no hangar onde o empresário guarda seusaviões, para tentar flagar o uso irregular dessas aeronaves porsenadores Demóstenes e Perillo.Em discurso, Demóstenes ressaltou que Escórcio não tem poderlegal para promover investigações, inclusive com supostas instalações de câmerasde vídeos em hangar de aeroporto. "Ele não é o Procurador Geral daRepública ou ministro do Supremo Tribunal Federal".O senador lembrou que Escórcio admitiu ter ido a Goiânia para levantar um materialcontra o governador do Maranhão, Jackson Lago, seu desafeto político. "O caso de Jackson Lago é localizado ao Maranhão", justificou Renan.Atransmissão da gravação fustigou os senadores. Opeemedebista Valter Pereira (MS) questionou se os parlamentares estariam noplenário do Senado ou numa delegacia de polícia. E completou. "A culpaé do Senado que não tem adotado atitudes necessárias para abortar estacrise".CristovamBuarque (PDT-DF) lamentou que os senadores fossem submetidos aoconstrangimento de ouvir a gravação de uma conversa telefônica entre umjornalista e um advogado. "A credibilidade se esvaziou na pessoa queestá na Presidência do Senado", disse o pedetista a Renan.Opresidente do Senado deixou o plenário por volta das 18h30. E participou do lançamento de uma exposição que está no Salão Negro da Casa. Questionado por repórteressobre os apelos dos colegas, ele disse encarar isso "com tranqüilidade,porque faz parte do jogo".