Yara Aquino
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Uma rota de tráfico de pessoas entre o estado do Pará e o Suriname (antiga Guiana Holandesa) tem atraído brasileiras com promessas de trabalho, que depois se revelam como situações de exploração sexual. Essas mulheres vítimas do tráfico de pessoas são principalmente jovens entre 17 e 30 anos que cursaram até a 5ª série do ensino fundamental. Os dados são de estudo realizado pelos pesquisadores Marcel Hazeu e Lúcia Isabel Silva, e integrantes da organização não-governamental (ONG) Só Direitos, de Belém. Eles entrevistaram 15 mulheres vítimas de tráfico que já voltaram para o Brasil e outras que ainda estão no Suriname, país sul-americano que faz fronteira com o Brasil.O perfil traçado pela pesquisa mostra que muitas dessas mulheres são mães, têm uma história de migração do interior do Pará para a capital, e que todas já trabalharam com babás ou empregadas domésticas. Elas costumam ser aliciadas por pessoas do próprio bairro onde moram, que são como braços da rede de tráfico. De acordo com a pesquisa, algumas são convidadas, outras procuram os aliciadores em busca de trabalho. No geral, essas mulheres não sabem o que realmente as espera quando chegarem ao Suriname. “Algumas são enganadas quanto ao tipo de serviço, são convidadas para trabalhar como babás ou garçonetes e algumas sabem que vão trabalhar em clubes e fazer programas, mas são enganadas quanto às condições em que vão exercer esse trabalho”, afirmou Lúcia Isabel. As mulheres entrevistadas relatam que vivem confinadas nos clubes onde trabalham de 21 horas até 4 da manhã. Lúcia Isabel conta que, mesmo após vivenciar essa situação de exploração, há mulheres que, de volta ao Brasil, pensam em retornar ao Suriname. “Elas voltam ao Brasil e são abandonadas ao próprio destino, têm baixa escolaridade, não conseguem emprego e voltam com o estigma de terem se transformado em prostitutas”. Segundo Marcel Hazeu, elas têm esperança de voltar em melhores condições. “Quando voltam, é com a perspectiva de ir não mais para um clube, mas para um homem cuidador ou para um garimpo, onde acham que têm mais liberdade, mais chance de ganhar dinheiro. Nenhuma das mulheres que encontramos conseguiu ganhar dinheiro e trazer para o Brasil. A frustração também é muito grande”. Os pesquisadores Marcel Hazeu e Lúcia Isabel Silva participaram hoje (3) do Seminário Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, em Brasília.