Yara Aquino
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A cada ano, mais de 2,5 milhões de pessoas são traficadas no mundo, deacordo com estimativa da Organização da Nações Unidas (ONU). E asmulheres são as principais vítimas. Segundo a ministra Nilcéa Freire, da SecretariaEspecial de Políticas para as Mulheres, cerca de 80% das pessoastraficadas são mulheres.Geralmente elas são atraídas por promessas de uma vida melhor, com bonssalários e trabalho no exterior em profissões como babás, garçonetes edançarinas de boate, mas, ao chegar, encontram uma realidade diferente. Aforma de exploração mais comum sofrida por essas mulheres é a sexual.“O sonho de Cinderela desmorona e elas se tornam escravas daqueles queas aliciaram”, disse a ministra. Assim, o tráfico costuma começar com o consentimento da pessoa que étraficada, por não saber que irá chegar a uma situação de exploração.“Há pessoas que sabem que vão trabalhar na indústria sexual, mas nãosabem que há tanta exploração, que não podem sair livremente, que seupassaporte é preso e que não podem ficar com todo o lucro conseguido”, afirmou Frans Nederstigt, integrante do Projeto Trama, que atua nocombate ao tráfico de pessoas para fins de exploração sexual.Dados da Pesquisa em Tráfico de Pessoas realizada pela SecretariaNacional de Justiça do Ministério da Justiça e da OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT) mostram que a maioria das brasileiras traficadasé de Goiás e Minas Gerais. Cerca de 57% das entrevistadas pela pesquisa têm ensino médio completoou incompleto e, antes de deixar o Brasil, 41% delas tinham renda mensal de uma três salários mínimos. A maior parte (47,4%) tem entre 25 e 40anos. Depois vêm as que estão na faixa etária entre 18 e 24 anos (37%). Um grupo de trabalho interministerial produziu uma proposta para oPlano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Entre assugestões que agora serão discutidas, a ministra Nilcéa Freire destacaa de tratar não apenas da repressão ao tráfico, mas do acolhimento àsmulheres que são vítimas dele. “Se não tiver como acolhê-las, tanto na partede prevenção quanto orientá-las antes e acolhê-las após serem vitimadas,de nada adiantam as ações repressivas isoladamente”. Na opinião de Frans Nederstigt, para que o combate ao tráficode pessoas se fortaleça no Brasil, é necessário que o governo brasileirodestine dinheiro do orçamento público de forma que esse trabalho não dependa tantode recursos internacionais “Tem também que ser uma prioridadebrasileira”, disse ele.Traficar pessoas é transportar, transferir ou abrigar alguém para finsde exploração. A exploração pode ser sexual e se dar pelasubmissão a serviços forçados, com pouca ou nenhuma remuneração. Tambémpode ter como fim a remoção e venda de órgãos da pessoa traficada.