José Carlos Mattedi
Enviado especial
Rio de Janeiro - Para chegar à medalha de ouro no tae-kwon-do, a maior conquista brasileira nos primeiros dias dos Jogos Pan-Americanos, Diogo Silva tirou dinheiro do próprio bolso para pegar sua preparação esportiva.No início deste ano, gastou os R$ 5 mil que tinha separado para comprarum carro e precisou comprar uma passagem para viajar à Bélgica e fazer sua preparação para os jogos.“Por diversas vezes pensei em desistir, porque já nãotinha condições de me manter no esporte. Precisei me manter forte, nãofraquejar. Essa foi minha maior barreira para chegar até aqui”, frisou. Diogo dedicou sua conquista aos companheiros da delegação brasileira de tae-kwon-do, que sofrem com a falta de patrocínio e com o “descaso" da Confederação Brasileira de Tae-Kwon-Do,responsável pela regulação oficial da modalidade e pelos repasses derecursos a atletas.“O nosso passado não é muito diferente do nossopresente. A maior dificuldade é financeira. Muitos atletas têm quecustear a prática do esporte com o dinheiro do próprio bolso. Esperoque, com essas medalhas no Pan [o tae-kwon-do ganhou também uma de prata, com Márcio Wenceslau], a gente consiga atrair mais público e patrocínios”, assinalou.Na noite de ontem (15), depois da vitória, ele conta que foidifícil “pregar” o olho para dormir. Colocou a medalha na cabeceira dacama, “para sonhar um pouco”, e ficou admirando o brilho do ouro, “meioextasiado”. “Pensei na minha mãe, que foi fundamental na minha vida.Pensei, também, que a minha maior vitória é a persistência, por saberque muitos ao meu redor desistiram, caíram, e eu continuo de pé”,finalizou. Com sua cabeleira rastafári, seu sorriso fácil,Diogo Silva vive com R$ 600,00 por mês, pagos pela ConfederaçãoBrasileira de Tae-Kwon-Do. Pela manhã de hoje (16), viveu um diacercado por fãs e atendeu a todos com carinho. Em meio ao tumulto,alguém deu a idéia para organizar a bagunça: formou-se então uma filapara fotos e autógrafos. Sempre simpático e atencioso, o atleta nãotirava o sorriso do rosto.“Sinto muito orgulho do que estáacontecendo agora na minha vida. Sou um atleta que ralou muito parapoder estar recebendo esse carinho do público. Esta é minhagratificação”, disse ainda emocionado Diogo. Ontem (15), enrolado nabandeira do Brasil, chorou durante a execução do Hino Nacional, após vencer o peruano Peter Lopez na categoria até 68 quilos.