Medalhista critica confederação e diz que tae-kwon-do melhorou por mérito dos atletas

16/07/2007 - 20h37

José Carlos Mattedi
Enviado especial
Rio de Janeiro - A medalha de ouro conquistada no tae-kwon-do, nos jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, não fez o atleta Diogo Silva esquecer das dificuldades que atravessa a modalidade. Hoje (16), na Vila Olímpica, cercado por curiosos e pela imprensa, ele falava das adversidades que cercam o esporte e criticou, sobretudo, a Confederação Brasileira de Tae-Kwon-Do (CBTKD), que estaria gerindo mal os interesses do esporte e os recursos públicos que recebe. Por outro lado, sua proeza já parece causar algum efeito: um empresário americano telefonou, interessado em patrocinar o atleta que convive com a penúria para se manter em atividade.A cena na Vila Olímpica – de fotos e pedidos de autógrafos – mostra uma realidade bem diferente de meses atrás. Sem apoio da CBTKD, que dá apenas uma ajuda de custo de R$ 600,00 mensais, com base na Lei Agnelo Piva, o lutador tirou do próprio bolso, no início do ano, R$ 5 mil para bancar seu treinamento na Bélgica, visando o Pan. O dinheiro vinha sendo guardado para a compra de um carro. Para Diogo Silva, a atual direção do tae-kwon-do, presidida pelo sul-coreano Yong Min Kim, é o grande entrave para o desenvolvimento da modalidade, que ganhou duas medalhas neste Pan – a outra foi de prata com Márcio Wenceslau.“O tae-kwon-do melhorou não por conta da CBTKD, mas pelo esforço dos atletas”, destaca. Após receber a medalha de ouro, Diogo foi cumprimentado por Kim, que retribuiu a delicadeza. O atleta explicou a atitude, apesar das divergências com o presidente: “No momento da competição, você não pode colocar suas divergências. Deve fazer isso numa outra hora”. Segundo ele, Kim já sabe da posição da delegação: “Já conversamos com ele, que sabe do pensamento dos atletas. Não aceitamos mais essa administração e, assim que acabar a competição, pretendemos mudar isso”.Com sua cabeleira rastafári sobre os ombros, e com uma visão crítica da realidade do tae-kwon-do, o atleta acredita que “a pressão que a mídia vai impor após as medalhas do Pan”, fará a atual administração da CBTKD “refletir”. Segundo ele, os atletas vão pressionar ao máximo, não para que a atual diretoria da confederação melhore, mas sim para que haja novas eleições. “Queremos uma administração nova, e uma empresa privada tomando conta dos atletas olímpicos”.De acordo com o medalhista, a maior dificuldade do esporte hoje, "e como sempre foi”, é financeira. “Não temos apoio. Atletas têm que custear a passagem do próprio bolso para competir. Em competições importantes para o nosso treinamento, a CBTKD não tem recursos para mandar a equipe porque essa administração não é legal, e peca muito”, critica. Para ele, as medalhas no Pan podem abrir novas portas, como a do patrocínio, que pode tirar vários atletas da situação de penúria. “Vamos ver se a gente consegue, agora, atrair mais público e empresários para o esporte”, diz esperançoso.E o primeiro sinal já veio dos Estados Unidos. Ontem mesmo, segundo ele, um empresário ligou e abriu a possibilidade de patrociná-lo. “Até amanhã vou poder confirmar ou não o convite para o patrocínio. Vamos aguardar”, resume, sem dar mais detalhes da proposta. Para quem vive com poucos recursos, é hora de fazer do tae-kwon-do um ganho de vida. “Minha paixão é o meu esporte. Quando ele vai bem, eu também fico bem. Os dois, pessoal e profissional, andam lado a lado”. E completa: “Por diversas vezes pensei em desistir por não ter condições de me manter no esporte. Muitos desistiram, mas eu tive que permanecer forte e não fraquejar”.Diogo Silva conseguiu uma medalha de bronze no Pan de Santo Domingo, em 2003, e um quarto lugar na Olimpíada de Atenas, em 2004. Fã de rap, agora ele vai se preparar para lutar por uma vaga nas Olimpíadas de Pequim, no ano que vem. A seletiva vai acontecer em Londres, em setembro.