Gláucia Gomes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Representante indígena no Conselho Nacional de Saúde,Jecinaldo Barbosa Cabral diz que os movimentos indígenas não foram informadosda construção de 96 unidades de saúde indígena, previstas para serem inauguradaspela Fundação Nacional de Saúde até o início de março. Cabral, que é também coordenador geral da Coordenação dasOrganizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o maior agrupamento dogênero no Brasil, diz que a necessidade de construção de mais postos foidebatida em vários encontros, como o Fórum Nacional de Presidentes de ConselhosDistritais de Saúde Indígena, mas, em nenhum momento, os representantesindígenas foram consultados ou informados sobre a definição de local ou de formatodos novos postos.O líder indígena diz que fica “insatisfeito” com essa faltade diálogo no caso dos postos, mas que isso não representa propriamente umanovidade. “Falta uma maior aproximação do trabalho indígena com o governofederal. E, por que não dizer, do governo federal com os indígenas”, diz ele.“A política do governo ainda é unilateral, ao invés de ser mais participativa.Não é debatido com os indígenas as questões relativas a eles.” O maior exemplo dessa falta de diálogo, segundo Cabral, é oPrograma de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado no último dia 22. “Deforma geral, falta diálogo, haja vista o PAC, que para nós será uma tragédia”,lamenta ele, em referência, especialmente, às grandes obras previstas naAmazônia pelo PAC, como a hidrelétrica de Belo Monte, em Mato Grosso, e ahidrovia do rio Madeira, entre Rondônia e o Amazonas. Para o líder indígena, que é da etnia Sateré-Mawé, doAmazonas, a construção de postos de saúde não resolve os problemas que a saúdeindígena apresenta hoje. O maior problema, segundo ele, ainda é o tratamentodispensado pelas prefeituras à questão da saúde indígena. “Na maioria dasvezes, os municípios são antiindígenas e não têm uma política especifica paraatender essas populações”, diz ele. “O problema macro perpassa pela descentralização, pelaautonomia dos distritos sanitários especiais indígenas (Dsei’s) e pelaestruturação que a Funasa está tentando fazer e que já deveríamos estar alémdisso para que esses absurdos (como a morte de crianças indígenas) nãoacontecessem”, completa. Para o líder indígena, a maior dificuldade ainda é apromoção do acesso das comunidades aos serviços oferecidos. “Os Dsei’s não têmautonomia e, por mais que construa postos, não vem atacar diretamente oproblema da gestão e a municipalização da saúde das populações indígenas”, dizele. De acordo com Cabral, ainda existe um déficit naestruturação dos postos de saúde já existentes, com falta de equipes e deequipamentos. A centralização promovida pela Funasa em relação aos recursostambém é prejudicial, segundo o líder.