Relatório diz que mortes por beribéri no Maranhão resultam de pobreza e falhas no sistema de saúde

18/11/2006 - 16h34

Juliane Sacerdote
Da Agência Brasil
Brasília - O número de pessoas afetadas pelo beribéri, causada pela falta de vitamina B1, e a quantidade de mortes por causa da doença demonstra o nível de extrema pobreza dos municípios maranhenses, avalia o relator nacional para os Direitos Humanos à Alimentação Adequada, Água e Terra Rural, Flávio Valente."Também denota a fragilidade do sistema de saúde, que não conseguiu identificar os casos. Por isso, várias mortes acabaram ocorrendo”.Ele passou algumas semanas no Maranhão para investigar as mortes que vêm ocorrendo desde fevereiro. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 25 municípios da região oeste do estado registraram 123 ocorrências de beribéri desde o início do ano. Pelo menos 33 pessoas morreram, sendo a maioria homens adultos com idade entre 15 e 30 anos. Municípios dos estados do Pará e de Tocantins também já registraram casos.O relatório com as conclusões do levantamento feito por Valente aponta que o sistema de saúde da região é “insuficiente”. O relator explica que vários pacientes chegaram a ir aos postos de saúde, mas os médicos não conseguiram diagnosticar corretamente a doença. Muitas dessas pessoas acabram sendo mandadas de volta para casa, sem tratamento.“Uma das principais sugestões do relatório, é que governo federal, estadual e municipal montem uma força-tarefa interministerial para fazer um amplo estudo sobre as comunidades". O documento aponta outras medidas, como estabelecer prazos e metas de médio e longo prazo e promover mudanças na estrutura produtiva da região. "Isso é necessário porque a região apresenta deficiência crônica alimentar, devido ao modo de ocupação do território e das práticas agrícolas, que levam a uma alimentação monótona”, destaca o autor do relatório.Segundo ele, a deficiência crônica alimentar é resultado do consumo de apenas alguns alimentos. Além disso, a quantidade de alimentos ingeridos não seria suficiente para suprir a necessidade de vitamina B1 no organismo. Valente lembra, ainda, que o esforço excessivo no trabalho e o consumo de álcool, que inibe a absorção da vitamina pelo corpo humano, agravam os casos.A Relatoria Nacional para o Direito Humano à Alimentação Adequada, Água e Terra Rural integra o projeto Relatores Nacionais em Direitos Humanos Econômicos Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca), coordenado pela Plataforma Dhesca Brasil.