Daniel Merli
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O aumento de participação do Norte e Nordeste na economia brasileira reduz a desigualdade, mas representa a decadência da produção voltada ao mercado interno, na visão do economista Marcio Pochmann, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).“A desigualdade cai porque está havendo um achatamento entre as pontas. E não porque todas as regiões estão crescendo bem”, afirma Pochmann, destacando o crescimento abaixo da média das regiões Sul e Sudeste.O economista considera importante a redução “das distâncias que separam o Brasil como um todo”, mas acredita que seria melhor que “todos os estados crescessem juntos”. Pochmann comentou , em entrevista à Agência Brasil, o aumento da participação de Norte e Nordeste na economia brasileira, segundo levantamento divulgado hoje (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A produção para exportação, que vem puxando o crescimento maior das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, também é questionada. “A maior parte é provocada pelo agronegócio, mineração e indústria para exportação. Todos voltados para o mercado externo”, diz.A queda da participação de estados industriais, como São Paulo e Rio Grande do Sul, é vista por Pochmann como o sinal de decadência de um modelo econômico voltado para o mercado interno. Como prova do crescimento desigual, o economista destaca números do próprio IBGE sobre renda média. Os estados mais industrializados têm apresentado um crescimento abaixo da média nacional. É o caso de São Paulo (8,8%) e Rio Grande do Sul (10%). De 2003 para 2004, a média da renda nacional cresceu 11%.No Amazonas, com forte crescimento da indústria de tecnologia para exportação, a renda média subiu 25,3% e, no Mato Grosso, puxado pelo agronegócio, a renda média subiu 21,1%.Em seu estudo Decadência Paulista, de 2005, Pochmann aponta a desigualdade regional como um dos principais problemas da economia brasileira. O estudo usa dados do IBGE para mostra que, de 1955 a 1975, a diferença entre o aumento do PIB do estado mais pobre e do mais rico era de 1,7 vezes.Entre 1985 e 1994, essa diferença foi a 27 vezes. Segundo o estudo divulgado hoje pelo IBGE, a desigualdade caiu, mas está ainda maior que no período de industrialização da década de 1970: 14 vezes.No mesmo estudo, Pochmann tenta provar que o auge do crescimento industrial brasileiro foi provocado pelo aumento do mercado interno. O economista mostra dados do IBGE apontando que o maior crescimento da indústria brasileira ocorreu de 1968 a 1973. E foi nesse período em que a produção econômica paulista ia mais para o mercado interno. Apenas 15% das exportações brasileiras saíam de São Paulo, índice mais baixo já registrado pelo IBGE.