Shirley Prestes
Repórter da Agência Brasil
Porto Alegre - As duas marchas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) no Rio Grande do Sul ficaram paradas nesta terça-feira (14). Naprimeira delas, que saiu ontem de Arroio dos Ratos, os mais de 500integrantes – contando com as crianças - permaneceram no acampamentomontado em frente ao assentamento São Pedro, em Guaíba, na regiãoMetropolitana de Porto Alegre. Na segunda, de Santana do Livramento, nafronteira Oeste, os manifestantes decidiram parar a poucos quilômetrosda cidade de Rosário do Sul.Nesta quarta-feira (15), o primeiro grupo seguirá pela BR-290 em direção à Fazenda Dragão, em Eldorado do Sul. “A pretensão é de avançar mais oito a 10 quilômetros e depois parar por dois ou três dias”, disse Mauro Cibulski, da coordenação estadual do MST, e um dos coordenadores da marcha.Eleexplicou que o forte calor dessa época na região é prejudicial para ascrianças, que ficam muito cansadas. E disse que o grupo espera que "ogoverno federal e o Judiciário se pronunciem em relação à área, que jádeveria ter sido desapropriada por interesse social".Além de lutar pela reforma agrária,acrescentou o coordenador, a proposta do movimento é debater com asociedade a situação das mais de 2,5 mil famílias que vivem acampadasna beira das estradas no estado, “muitas delas há mais de cinco anos".A área da Fazenda Dragão está seqüestrada pela Justiça Federal e o MSTpretende transformá-la em assentamento. "O local era usado por umaorganização criminosa da qual fazia parte o jordaniano Walled IssaKhmays, preso em junho de 2004, e que responde a processo no Rio Grandedo Sul por lavagem de dinheiro, uso de documento falso, porte ilegal eocultação de armas”, lembrou Cibulski. Ele informou ainda que ojordaniano, que usava o nome de Rogério Cury Mattar, foi condenado noCeará.A segunda marcha do MST vai para a Fazenda Southall, em São Gabriel.O grupo está parada às margens da BR-158 e decidiu fazer debates com apopulação de Rosário do Sul sobre as monoculturas de eucalipto. SegundoCibulski, o movimento está denunciando que a multinacional AracruzCelulose “planeja comprar o latifúndio de 13,7 mil hectares da FazendaSouthall”.O coordenador disse estranhar "o comportamento do Judiciário, que tem contestado todas as desapropriações inclusive a da Southall, que possui dívidas de quase R$ 50 milhões com os cofres públicos, cujo proprietário está disposto a negociar com o governo”. As dívidas da Southall equivalem ao preço da área, "por isso queremos que o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] faça a desapropriação para assentar mais de 600 famílias", explicou Jane Fontoura, outra integrante do MST. Ao analisar o segundo dia de mobilização no estado, Cibulskiconfirmou a denúncia dos sem-terra, que ocupam desde ontem (13) afazenda Palermo, em São Borja, na fronte rira Oeste. Segundo ele,policiais militares "usam as sirenes das viaturas a toda hora, paraimpedir que as pessoas durmam, e também dispararam uma rajada de tirospor cima dos barracos, durante a madrugada”. Hoje, a Justiça deu prazode 48 horas para as famílias saírem da fazenda Palermo. Em nota, o MST afirma que o governo estadual "mais uma vez estátratando a reforma agrária como caso de polícia". E denuncia: “Emquatro anos, o estado não assentou nenhuma família sem-terra no RioGrande do Sul. Mas foi ágil em mandar a Brigada Militar agir comviolência contra os trabalhadores e trabalhadoras organizados". O documento destaca ainda que “com as mobilizações no Rio Grande do Sul, o MST reivindica o cumprimento da meta estabelecida pelo Incra, de assentar 1.070 famílias em 2006".