Tropeço administrativo é uma das causas da crise do Incor, diz presidente de sindicato dos médicos

14/11/2006 - 10h12

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A atual situação do Instituto do Coração (Incor) é fruto, principalmente, de problemas administrativos, avalia o presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), Cid Carvalhaes.“Ninguém chega a uma dívida de R$ 260 milhões, em um espaço de tempo de cinco ou seis anos, se não houve tropeços administrativos”, disse, em entrevista à Agência Brasil. “É uma situação muito ruim, preocupante e extremamente incômoda”.Segundo ele, houve atraso no pagamento dos salários dos funcionários em outubro. “Depois de uma mobilização muito grande, esses salários foram pagos, mas sem o recolhimento dos impostos referente às obrigações trabalhistas e sem o recolhimento do imposto de renda retido na fonte”.A crise no Incor, afirma Carvalhaes, foi percebida pelo Simesp há pelo menos dois anos. Em setembro de 2005, quando a dívida somava R$ 120 milhões, o sindicato procurou a instituição para tratar da questão.“Não obtivemos respostas satisfatórias. Disseram que era exagero, que os valores não eram tão altos quanto estavam sendo divulgados, que as dívidas eram administráveis, que o Incor tinha uma dinâmica de gerenciamento de verbas que suportaria os valores pendentes e que estavam providenciando empréstimos a longo prazo para permitir a administração daquelas cifras negativas”.O sindicalista pondera que um eventual auxílio do governo federal deve ser analisado com cautela. “É preciso ver com muita preocupação a transferência de mais dinheiro público e de mais recursos sem que seja assegurada uma administração severa e rígida no Incor", observou. Carvalhaes acrescenta que o Simesp não compartilha da idéia de transferir dinheiro “pura e simplesmente para tapar buracos e continuar a situação exatamente da mesma forma”.Segundo ele, a entidade está preocupada com as informações de que a crise pode gerar redução de 15 % no número de funcionários do instituto, podendo, inclusive, baixar em 60 % o complemento do salário dos cerca de 1,3 mil médicos que atuam na instituição.“Por conclusão, vai diminuir o atendimento, e isso é uma coisa lamentável, porque a população sofrida e carente, que contava com o serviço de excelência, vai ver restringida a sua possibilidade de acesso ao tratamento do coração”.