Em troca de financiamento, empresas querem privilégios, criticam movimentos

13/11/2006 - 22h27

Daniel Merli
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A doação de dinheiro para a campanha de políticos é uma forma de garantir espaço político no Congresso Nacional e nos governos estaduais e federal. O objetivo final seria a manutenção ou ampliação de privilégios que o Estado brasileiro oferece a essas empresas. Essa é a avaliação de duas organizações que criticam o financiamento privado de campanhas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).No caso das siderúrgicas, que doaram R$ 21,6 milhões às campanhas eleitorais deste ano, o interesse seria manter o subsídio ao consumo de energia elétrica, afirma o MAB. “Têm interesse de manter esse modelo e fortalecer os seus representantes no Congresso e nos cargos executivos”, critica Marco Antonio Trierveiler, da coordenação nacional do MAB.Trierveiler apresenta números sobre a tarifa de energia elétrica para comprovar que há interesse das siderúrgicas em financiar campanhas. Segundo dados do MAB, o preço da energia elétrica para o consumidor familiar está em até R$ 0,68 por quilowatt/hora. Mas as siderúrgicas recebem um subsídio, determinado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que lhes permite pagar até R$ 0,07 centavos por quilowatt/hora.É o caso, segundo Trierveiler, do Rio Grande do Sul, onde a siderúrgica Gerdau pagaria R$ 0,07 pelo quilowatt/hora. Para o consumidor familiar, o custo seria de R$ 0,64. Só entre os candidatos gaúchos, a empresa Gerdau doou cerca de R$ 5 milhões. A assessoria de imprensa da siderúrgica não conseguiu localizar nenhum representante da empresa para conceder entrevista até o fechamento desta matéria.O valor das doações é pequeno para o nível de ganhos das empresas. Segundo o movimento, no ano passado o setor faturou R$ 90 bilhões. O MAB afirma que cerca de um terço da energia elétrica produzida pelo país é consumida pela chamada indústria eletro-intensiva – que utiliza grande quantidade de eletricidade. Entre elas, a siderurgia e a celulose.No caso das empresas do agronegócio, segundo o MST, o motivo das doações seria o interesse em obter apoio dos governos para ações que degradam o meio-ambiente. “Essas empresas representam risco ao meio-ambiente e às populações tradicionais”, acredita José Batista de Oliveira, da coordenação nacional do MST. Batista cita o caso específico dos transgênicos, liberados em parte pelo governo federal, e da companhia Aracruz, que disputa judicialmente uma área de 11 mil hectares, no norte capixaba. A Fundação Nacional do Índio (Funai) deu parecer afirmando que a área é de ocupação dos Tupiniquim e Guaranis.“O agronegócio quer se fortalecer onde possa garantir seus interesses”, acredita o integrante do MST, citando o Congresso Nacional e os governos estaduais. Batista considera que a ocupação do poder é uma forma de garantir apoio a suas políticas.