Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A impunidade, a ganância de latifundiários e a miséria nocampo são as principais causas do trabalho escravo no Brasil. A avaliação é docoordenador jurídico do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), CarlosKaipper. Em entrevista hoje (2) à Agência Brasil, ele destacouque ainda não há uma definição no país de quem é a competência para julgar essecrime. “Queremos cobrar do poder Judiciário que defina quem é competente: a Justiçafederal ou estadual”.Ele disse que a falta dessa definição atrasa o julgamentodos responsáveis pela exploração do trabalho escravo. “Essa competência só vaiser definida quando se concluir o julgamento de um recurso no Supremo TribunalFederal”, destacou. Segundo Kaipper, de 1995 até hoje mais de 20 miltrabalhadores rurais foram libertados, mas nenhum escravagista foi preso.“Temos algumas condenações, mas efetivamente nenhum deles está atrás dasgrades”. Kaipper ressalta ainda a ganância dos exploradores dotrabalho escravo. Segundo ele, são pessoas “extremamente poderosas”,normalmente latifundiários exportadores. “Quando chegamos nas fazendas, ocontraste é enorme. De um lado, a produção agrícola ou pecuária com altíssimatecnologia. Do outro lado da cerca, os trabalhadores em condições absolutamentedesumanas, dormindo em barracos, bebendo água do córrego imunda, que é a mesmaque os animais bebem e tomam banho”.“É preciso ressaltar que não podemos generalizar. Não é todoo latifundiário que explora. Temos hoje 178 nomes na lista suja”, completou. Segundo ele, a falta de oportunidade no campo também torna otrabalhador vulnerável. “O trabalhador é enganado com falsas promessas de umemprego digno. Acaba sendo deslocado para locais de difícil acesso e, chegandolá, ele se dá conta que está vitimado a essa condição”.