Grito dos Excluídos reúne milhares de paulistanos no Parque do Ipiranga

07/09/2006 - 17h31

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Moradores de favelas, militantes de partidos políticos,religiosos, mulheres marginalizadas, representantes do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outros movimentos sociais esindicais participaram hoje (7), na capital paulista, do Grito dosExcluídos. A marcha foi encerrada com ato público em um palco montadoao lado do Monumento da Independência, no Ipiranga, zona sul da cidade.A Polícia Militar calculou em dois mil o número departicipantes, mas os organizadores estimaram entre 5 e 10 milmanifestantes, no maior aglomerado do gênero, conforme declararam. Essafoi a nona vez que o ato ocorreu na cidade de São Paulo. O Gritocomeçou com a celebração de missa, na Catedral da Sé, por volta das 7horas. Depois de uma concentração na Praça da Sé, milhares demanifestantes saíram, às 10 horas, em romaria a pé até o Parque daIndependência, distante cerca de 7 quilômetros. Em dois carros de som,palavras de ordem em favor das causas sociais eram intercaladas porcanções, como a de Geraldo Vandré, "Pra Não Dizer que Não Falei dasFlores".  Ao chegar ao parque, por volta das 12h15, osmanifestantes, agitando bandeiras e cartazes, espalharam-se entre asescadarias do Monumento da Independência, o gramado dos jardins doMuseu do Ipiranga e a área calçada, diante do palco e carro de sommontados para o ato público. No meio do público, uma enorme faixaexibia o lema da campanha da Central Única dos Trabalhadores (CUT) emarcava posição contra demissões na fábrica da Volkswagen, em SãoBernardo do Campo, no ABC paulista. “Nenhuma demissão na Volks” e"Redução de Jornada Sem Redução Salarial” dizia a enorme faixa branca,estendida diante do palco de manifestação.O padre JúlioLancelotti, da Pastoral de Rua, primeiro orador, destacou o assassinatode sete moradores de rua em agosto de 2004, na região central de SãoPaulo. Outras sete pessoas ficaram feridos no episódio, que ficouconhecido como massacre dos moradores de rua. Inconformado com o fatode tais crimes não terem ainda sido esclarecidos, o padre disse quecontinuará lutando por justiça. “Vamos pressionar, porque é impossívelaceitar que esse crime fique impune”, afirmou.Lancelotticriticou a prefeitura de São Paulo, acusando diretamente o prefeitoGilberto Kassab de perseguir moradores de rua, além de catadores depapel. “Continua o massacre dos mais indefesos. Até o cobertor que elestêm para não morrer de frio, a prefeitura está tirando deles”, afirmou.A assessoria de imprensa da prefeitura contestou o padre,dizendo que, diferentemente do que disse Lancelotti, continua otrabalho permanente de recolhimento de mendigos por 62 agentesmunicipais, que os levam os moradores para albergues. A grandedificuldade, segundo a assessoria, é que nem todos concordam em sair dacondição em que estão.O coordenador da Pastoral Operária daregião metropolitana de São Paulo, Paulo Pedrini, considerou “muitopositivo” o movimento do Grito dos Excluídos deste ano. Para ele,atingiu-se o objetivo de exaltar a luta pela dignidade humana. “Demosum grito contra a falta de moradia, a falta de saúde e de educação; porserviços púbicos de qualidade e ausência de reforma agrária urbana”.Segundo ele, a expectativa é viver em um país sem exclusão: "Quiçá,possamos chegar a um dia onde o Grito dos Excluídos não seja maisnecessário”.