Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Um dos principais desafios nocombate e no tratamento da aids é a forma desigual como a doença incide napopulação brasileira. Esse foi o destaque dos debates de ontem (23) dos queparticipam no Rio de Janeiro do 11º Congresso Mundial de Saúde Pública. Oencontro começou no dia 21 e vai até amanhã (25), no Centro de Convenções doRiocentro.De acordo Inês Dourado, doInstituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, os númerosnacionais, que mostram uma relativa estabilidade do problema, não refletem arealidade nos vários pontos do país.Enquanto no Sudeste aincidência do vírus HIV e a mortalidade caem, nas regiões norte, sul e nordestea doença continua crescendo. “Como a região sudeste apresenta estabilidade etem o maior número de casos de aids do Brasil, as estatísticas para o país comoum todo são muito puxadas por ela, mas há muitas diferenças. Então é necessáriotrabalhar com análises de tendências por cada região”, explicou Dourado.Segundo a pesquisadora,entre 1997 e 2002 aumentaram a incidência da doença e a mortalidade na regiãonorte. Nas outras regiões não houve redução da mortalidade e caiu a velocidadede expansão da doença. Ela salientou, no entanto, que mesmo em ritmo menor, a aidsainda apresenta crescimento, principalmente no Sul e no Nordeste.De acordo com aepidemiologista Lígia Kerr, da Universidade Federal do Ceará, a disparidade dadistribuição da doença, acompanha a desigualdade social do país. “Asdificuldades são maiores em regiões mais pobres como o Nordeste e o Norte quetêm um maior grau de pobreza e grande desigualdade social. Essas questões estãomuito relacionadas com a falta de informação que é extremamente importante: seuma população tem menos conhecimento ela será mais afetada”.Segundo Kerr, nessasregiões, onde também é mais difícil o acesso aos serviços de saúde e aosprogramas de controle, há menor uso de preservativos, é maior a taxa deincidência de crianças nascidas de mães com o vírus da aids e é menos intenso otratamento dessas mães para impedir a infecção de seus bebês. Em relação à região sul osmotivos do aumento dos casos de aids são outros. Segundo Inês Dourado, ascausas estão ligadas à numerosa população jovem, ao uso de drogas injetáveis e àexistência na região muitas áreas portuárias, onde normalmente existe grandedisseminação da doença. Ela informou, no entanto, que ainda “é preciso fazerestudos para avaliar melhor a situação específica da Região Sul”.Em entrevista à AgênciaBrasil, a pesquisadora destacou o avanço do programa brasileiro deprevenção e combate a aids, principalmente com o tratamento universalimplantado em 1997 pelo Ministério da Saúde. De acordo Dourado, dados mostramque desde o início da oferta do tratamento até 2002, o número de casos foimenor do que era estimado antes da criação dessa política pública. “Houve um impacto dasmedidas de controle e prevenção e do acesso universal à terapia, os casosobservados são bem menores do que se esperaria se tudo ficasse como estavaantes do acesso universal”.Ela ressaltou, no entanto,que para avançar na prevenção e combate à aids os gestores estaduais enacionais precisam desenvolver programas específicos para grupos como os profissionais do sexo, homossexuais, caminhoneiros, usuários de drogasinjetáveis e populações confinadas em prisões.