Pesquisa sobre vitimização contribuirá para sistema de informações sobre segurança no país

22/08/2006 - 23h12

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A partir do próximo ano, o Brasil terá dados mais consistentes para desenvolver políticas na área de segurança. As informações virão da primeira Pesquisa Nacional de Vitimização, que deve ser realizada até o final de 2007 por meio de um convênio entre o Ministério da Justiça e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com Marcelo Durante, coordenador geral de Pesquisa e Análise de Informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), o levantamento será fundamental para saber o que realmente acontece no país em termos de criminalidade, pois as estatísticas nacionais sobre segurança pública, baseadas em registros policiais, oferecem "apenas uma aproximação do problema".

Para dar uma idéia de como os dados da polícia apresentam uma realidade subestimada sobre a ocorrência de crimes, Durante informou que apenas 20% dos roubos são registrados pelas vítimas.

“Infelizmente, as estatísticas oficiais são resultado da informação trazida por aquelas pessoas que têm acesso à polícia. Ou seja, para desenhar políticas de segurança pública que realmente se pautem pela necessidade, para trazer uma segurança pública para o país, ao invés de esperar a população ir até a polícia, precisamos ir até a população e questioná-la”, explicou.

O estudo, acrescentou, servirá inclusive para conhecer a relação entre polícia e comunidade, o grau de satisfação quanto aos serviços prestados pelos órgãos policiais, e a avaliação da população sobre as políticas públicas de segurança. A pesquisa vai incluir abordagens específicas a respeito da vitimização da mulher e da incidência de crimes ligados a orientação sexual, ou seja, que atingem a população homossexual.

Para Marcelo Durante, o levantamento pode representar, inclusive, a democratização das políticas públicas de segurança: “Sem dúvida nenhum grupo social tem capacidade diferente de registro de ocorrência, de acesso a polícia. Então, as políticas hoje são desenhadas muito mais para esses grupos que têm mais acesso".

Ele informou que as negociações com o IBGE para viabilizar o estudo ainda estão em andamento, mas os recursos, da ordem R$ 8 milhões, "já existem". A pesquisa deverá ser realizada periodicamente em todo o país. Além do levantamento de dados, os profissionais do IBGE deverão analisar as informações e apresentar sugestões para ajudar a melhorar as ações de segurança pública.

O estudo vai adotar uma metodologia internacional desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e aplicada em 80 países. A abordagem já foi utilizada de forma pontual em 2001, em Recife, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Vitória. Por ser aplicada também fora das capitais e regiões metropolitanas, a pesquisa permitirá o conhecimento da realidade de cidades do interior em relação à segurança e às questões ligadas à violência rural.

“Na realidade, a noção de que as capitais concentram o maior número de crimes pode ser simplesmente porque os nossos sistemas de registro de ocorrências estão mais adaptados à coleta de informação nos ambientes urbanos”, lembrou Durante, durante debate sobre estatísticas na área de segurança, dentro da programação de hoje do 2º Encontro Nacional de Informações Sociais, Econômicas e Territoriais, promovido pelo IBGE para definir o plano de trabalho do órgão nós próximos anos.