Renda dos 10% mais pobres teve "crescimento chinês" em 2004, diz pesquisador

22/08/2006 - 19h47

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O maior avanço na redução da desigualdade nos últimos anos ocorreu entre os meses de março e junho de 2004, quando a renda dos 50% mais pobres registrou um crescimento real de 16%. Já a renda dos 10% mais pobres cresceu de 10,5% para 11,6%. Neste período, o número de pobres reduziu de 23,8% para 19,4%. A China manteve um ritmo de crescimento médio de 9,5% ao ano, de 1980 a 2004. Para o coordenador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, 2004 foi uma espécie de “ano chinês” para os pobres brasileiros. “O Brasil é o país campeão da desigualdade e neste período sofreu uma forte redução dos índices de desigualdades. Foi um ano em que o bolo não só cresceu, mas cresceu com mais fermento para as classes mais pobres – o que, em se tratando de Brasil, é sem dúvida um ponto fora da curva”.O estudo elaborado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação a partir da análise de microdados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, “Redistribuição à Brasileira: Ingredientes Trabalhistas”, divulgado hoje (22) pela Fundação Getúlio Vargas, mostra que entre 2002 e 2006 (período em que a parcela dos 10% mais ricos encolheu de 50,2% para 46,89%), a parcela da renda dos 50% mais pobres subiu de 9,95% para 12,2%.Puxado pelo crescimento significativo da economia mundial, que alavancou uma expansão não menos significativa do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB, a soma das riquezas produzidas no país), o resultado verificado em 2004 refletiu uma “conspiração” de fatores favoráveis ao aumento da renda dos mais pobres.“De um lado houve aumento da taxa de empregabilidade do trabalhador – apesar de ter mais gente participando do mercado de trabalho a chance de se conseguir uma ocupação foi maior; subiu ainda as horas trabalhadas e, fundamentalmente, subiu também o salário/hora do trabalhador”, ressalta Neri.