Internet terá impacto "total" sobre a democracia, avalia especialista

03/08/2006 - 13h52

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Das propostas defendidas durante o mandato até os gastos em campanhas anteriores e os processos sofridos na Justiça, as mais diversas informações sobre candidatos estão hoje disponíveis a qualquer cidadão, na internet. No Brasil, a rede mundial de computadores apenas começa a mostrar suas possibilidades, mas, a médio prazo, o impacto pode ser grande, avaliam especialistas. “O impacto sobre a democracia tende a sertotal”, avalia o jornalista Pedro Dória.Em seu trabalho como blogueiro, espécie de colunista online, Dória mapeia o mundo virtual indicando novos sites e ferramentas de acesso a informação. O impacto da internet na política, segundo ele, tende a ser maiorna medida em que mais pessoas têm acesso à tecnologia. “A Coréia do Sul, país coma maior densidade de gente com banda larga do mundo, tem um partido políticoque se formou na Internet e hoje comanda o governo. No Brasil, conforme otempo avança, o impacto tende a ser maior e, como na Coréia, isso vai mudar o jeito defazer política”, diz ele. Esta semana, entraram no ar, os bancos de dados do projeto Excelências, da ONG Transparência Brasil. Quase 500 políticos que concorrem em outubro à Câmara, seja à reeleição, ou após ocupar outro cargo público, têm seu passado exposto aos internautas. A Radiobrás também disponibiliza desde ontem (2) um levantamento sobre candidatos inelegíveis, em função de problemas em prestações de contas. O trabalho foi totalmente feito a partir de bancos de dados públicos, já disponíveis na internet.“A Internet é um meio de acesso à informação muitoimportante, não só para ver programas de governo ou saber quem está envolvido comescândalos, mas também como ferramenta de cobrança”, avalia a vice-coordenadorageral do Movimento Voto Consciente, Rosangela Torrezon. Ela conta que umacampanha realizada na cidade de São Paulo levou à aprovação de uma lei queobriga a publicação mensal, pela Internet, da execução orçamentária do maiormunicípio brasileiro. “Isso é muito simples, muito fácil de fazer, e os mais de5600 muinicípios brasileiros deveriam ter sites com ações do Executivo e doLegislativo”, propõe.Rosangela destaca que, hoje, já se pode acompanhar, pelaInternet, os projetos em votação no Congresso e os trabalhos das comissões naCâmara e no Senado, por exemplo. “Também existem blogs e muitas iniciativas pessoaisinteressantes. Embora o acesso à Internet ainda seja restrito à classe média,as ONGs podem acessar essas informações e repassar à sociedade civil”, avalia.Pedro Doria, que participou dasprimeiras iniciativas de introdução da Internet no Brasil, lembra que apenas10% dos brasileiros (menos de 20 milhões de pessoas) têm acesso à Internet.Além do ainda restrito alcance, nem todos sabem utilizar a ferramenta da qualdispõem. “Os mais velhos ainda têm um certo conservadorismo, acessam a rede deforma capenga, e a garotada não tem maturidade para assimilar certosconceitos”, avalia. “Quando esta geração estiver votando, daqui a 10 ou 15anos, o impacto da Internet será maior."Ele acredita que os blogueiros podem fazer o papelmultiplicador, distribuindo informações que capturam na rede. “Um blogueiro oualguém que tenha curiosidade de pesquisar nesses arquivos pode reproduzir dadossobre um candidato de sua cidade, por exemplo. Basta recortar, colar edistribuir por e-mail. É nesse comportamento viral que a Internet pode terimpacto”, avalia.