Síria não sabia que Hizbollah ia seqüestrar soldados israelenses, garante embaixador

26/07/2006 - 20h04

Julio Cruz Neto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em entrevista hoje (26) à Agência Brasil, o embaixador da Síria no Brasil, Ali Diab, garantiu que Damasco (capital do país) não tinha a menor idéia de que o Hizbollah seqüestraria os dois soldados israelenses, atitude que foi o estopim para mais um conflito em território libanês, cuja conseqüência foi um intenso bombardeio de Israel contra o Líbano, que já dura duas semanas. Apesar da tradicional aliança entre a Síria e o grupo armado, que atualmente também é um partido político no Líbano, o embaixador ressalta que o Hizbollah é autosuficiente. Leia o segundo trecho da entrevista.Agência Brasil – A Síria tinha conhecimento que o Hizbollah ia seqüestrar os soldados israelenses?Ali Diab – Absolutamente. Nós apoiamos a resistência moral e politicamente [a mesma definição dada hoje pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em entrevista coletiva]. Mas o Hizbollah é um partido 100% libanês, não há, em suas fileiras, sírios ou iranianos, como andam dizendo por aí. Então ele planeja e age sozinho, sem interferência. Não é a primeira vez que o Hizbollah seqüestra soldados israelenses. Em 2003, os restos mortais de dois soldados foram trocados por 400 prisioneiros libaneses e palestinos.ABr: A opinião pública trata como fato consumado o Hizbollah ser financiado e armado pela Síria e pelo Irã. Não é verdade?Diab: Nós damos apoio moral e político. O Hizbollah é autosuficiente, não precisa de apoio financeiro. Falo pela Síria.ABr: O seqüestro ocorreu pouco depois de soldados israelenses também serem seqüestrados pelo Hamas, em Gaza. O senhor acredita que os dois fatos têm relação entre si?Diab: São duas resistências contra o mesmo inimigo. Não sei se há ligação entre as operações, mas com certeza qualquer ato vem em benefício da outra resistência.ABr: Seria prematuro dizer que está nascendo um novo eixo de poder na região, com Hamas, Hizbollah, Síria e Irã?Diab: Lamentavelmente, os Estados Unidos vêm alegando que há formação de um crescente xiita, mas isso não é verdade. Existe, na verdade, uma força a fim de combater o predomínio norte-americano e israelense na região. O Hamas sequer é xiita e nem a Síria.ABr: Nesta semana, os Estados Unidos fizeram uma proposta de cessar-fogo condicionada à criação de uma zona de segurança no sul do Líbano. O senhor acha que há um interesse geopolítico por trás disso?Diab: Você já deu a resposta. Os Estados Unidos dizem que são os grandes defensores da democracia, mas agem de forma diferente. Um exemplo é o que está acontecendo no Iraque, Líbano e Afeganistão. O embaixador dos Estados Unidos na ONU [Organização das Nações Unidas] defende os interesses de Israel mais do que o próprio embaixador israelense. Israel atacou até um quartel-general da ONU [referindo-se ao ataque de ontem, que matou quatro observadores das Nações Unidas no sul do Líbano: um austríaco, um canadense, um chinês e um finlandês, segundo militares libaneses].