Resposta será "muito dura" se Israel atacar a Síria, diz embaixador

26/07/2006 - 19h53

Julio Cruz Neto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Se for atacada, a Síria está pronta para entrar na guerra e causar transtornos às Forças Armadas de Israel. Na situação atual, com o conflito restrito aos territórios libanês e israelense, o governo sírio se mantém como atento observador, dando apenas “apoio moral e político” ao Hizbollah. A afirmação é do embaixador da Síria no Brasil, Ali Diab, que recebeu hoje (26) a reportagem da Agência Brasil. Além de criticar Israel e os Estados Unidos, ele negou que a Síria forneça dinheiro e armas ao Hizbollah – algo dado como certo por alguns especialistas em Oriente Médio. Diab ressaltou o poderio militar sírio e o alinhamento com o Irã; afirmou que Damasco está fazendo o possível para acolher refugiados, inclusive brasileiros; e garantiu que, apesar da rivalidade, sofre ao ver um civil israelense morto. Os principais trechos da entrevista, realizada com auxílio de intérprete, serão divididos em três matérias. Agência Brasil: Logo que o conflito teve início, no dia 12 de julho, a Síria manifestou apoio ao Hizbollah, mas depois não se manifestou mais. Qual a posição de Damasco (capital do país) atualmente? Ali Diab: Damasco é contra esse ataque bárbaro e indiscriminado que destrói tudo. A Síria apóia a resistência nacional libanesa comandada atualmente pelo Hizbollah. Israel alega autodefesa, acusando o Hizbollah de ser uma organização terrorista, mas isso não tem nada a ver com a realidade. Israel é que vem praticando o verdadeiro terrorismo de Estado, matando os libaneses nas suas casas, como também mata os palestinos na faixa de Gaza. Como embaixador da Síria, eu agradeço a posição do governo brasileiro, que condenou esses ataques bárbaros e indiscriminados contra a população civil no Líbano.ABr: Existe possibilidade de a Síria entrar no conflito? Diab: Não temos a intenção, mas a Síria já declarou várias vezes que, se for atacada, a resposta será muito dura. ABr: E a Síria tem condições de enfrentar Israel? Diab: Inegavelmente Israel tem superioridade militar e apoio irrestrito dos Estados Unidos. Tem um exército poderoso. Mas quando o ser humano sofre agressão, com certeza usa todos os meios, toda a capacidade para enfrentar esta agressão. ABr: Damasco tem mantido contatos com Teerã (capital do Irã) sobre a crise? Diab: Sim, existe uma coordenação e troca de visitas permanente. O Irã já declarou que qualquer ataque sofrido pela Síria ele entrará na guerra também. Qualquer ataque à Síria transformará a região num inferno. ABr: Claro que o Irã está mais distante da zona de combate, mas vale a recíproca? Se o Irã for atacado, a Síria também vai reagir? Diab: Sim, existe um acordo de cooperação militar. ABr: E a Síria vê possibilidade concreta de sofrer um ataque? Diab: Israel tem declarado que não tem como objetivo atacar a Síria, mas a experiência nos ensina que Israel não é sincero.ABr: A Síria está reforçando suas tropas? Diab: A situação é diferente da situação do Líbano. Temos um exército regular que vem sendo formado há décadas, somos um país de confronto, em estado de guerra contra Israel, e estamos preparados. Em 1973, nosso exército, ao lado do exército egípcio, entrou em guerra contra Israel e obteve várias vitórias. Se os Estados Unidos não apoiassem Israel, teríamos conseguido recuperar grande parte dos territórios ocupados. O Egito aceitou cessar-fogo, mas a Síria continuou em guerra por 90 dias [o embaixador refere-se à Guerra do Yom Kippur, quando, apesar das vitórias mencionadas, Israel acabou ratificando a posse das colinas]. ABr: Mas a Guerra dos Seis Dias, com a rápida tomada das colinas, foi uma grande demonstração de força de Israel. Isso não amedronta? Diab: Psicologicamente, a guerra de 67 afetou os exércitos e a população árabe de maneira geral. E Israel aproveitou-se muito bem anunciando que tem um exército imbatível. Mas a guerra de 73 colaborou muito para o fim desse domínio. Os aviões israelenses começaram a cair e as batalhas em terra provaram que o exército israelense é incapaz de enfrentar exércitos árabes.