Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A utilização de cartas públicas como forma deobter o compromisso de candidatos com determinadas causas já foi aplicada emeleições anteriores no país. Em 2002, a organização não governamentalTransparência Brasil elaborou uma carta-compromisso em relação ao combate àcorrupção. Na ocasião, os candidatos à presidência da República Luiz InácioLula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) assinaram o documento. Hoje, a entidadequestiona a validade da estratégia. Numa disputa por votos, o candidato assinatudo o que colocarem na sua frente. Essa é a idéia que o diretor executivo daTransparência Brasil, Cláudio Abramo, tem hoje das cartas-compromisso. “Parte daquilo (a carta de 2002) foicumprida parcialmente, e uma parte não foi cumprida”, reclama ele. Abramo cita,como compromissos que não foram cumpridos, a melhoria do aparelhamento daPolícia Federal para combater a corrupção e propostas de lei feitas pelo Executivo nesse sentido. “Étípico das campanhas eleitorais e da gestão que o candidato assine coisas queserão bem vistas por parte do eleitorado, mas, quando chega na hora degovernar, faz coisa diferente.” A Transparência estuda, para utilizar naatual campanha, a adoção de novas estratégias. Abramo afirma, no entanto, que omais importante para a eficácia de uma carta-compromisso é a cobrança por parteda população e da imprensa. “A imprensa tem acesso e é a intermediária entre ogovernador, o presidente e a população. É ela quem leva a informação que vem doEstado para a população. A imprensa precisa, no entanto, cobrar mais. Se nãohouver a cobrança, o governante não se sente pressionado.” Para Abramo, o formato das cartas também precisaser aperfeiçoado. “Compromissos do tipo ‘prometo que vou ser bonzinho’ de nadaservem. Compromisso é assim: no prazo tal, tomarei a medida tal. Quandoconstituir o ministério, vou colocar X% do orçamento para aparelhar odepartamento fulano de tal, que vai cuidar desse problema aqui”, exemplifica.“Medida concreta é medida concreta. Governar significa mobilizar recursos paraatingir os objetivos que são expressos. Governar não é discursar. Compromissosnão podem ser compromissos verbais, mas materiais.”