Diplomata sírio acredita em apoio geral do povo árabe à resistência no Líbano

26/07/2006 - 20h16

Julio Cruz Neto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Embora diga que a Síria está pronta para entrar em ação se o Líbano pedir, o embaixador da Síria no Brasil, Ali Diab, lembra que seu país está interessado em levar adiante um processo de paz para tentar recuperar as Colinas de Golã, tomadas por Israel nas guerras travadas no século passado. Neste último trecho da entrevista concedida hoje (26) à Agência Brasil, ele afirma que, apesar de nem todos os países da região terem reagido com a mesma ênfase contra os ataques de Israel ao Líbano, de maneira geral, o povo árabe apóia a resistência.Agência Brasil: Existe no Líbano uma forte divisão entre aqueles que são pró e contra a Síria, país que teve forte presença militar no Líbano até poucos anos atrás. Isso coloca o seu país numa posição delicada na atual situação?Ali Diab: A sociedade libanesa, na sua maioria, é contra Israel e a favor da Síria. Mas uma minoria tem interesse com o Ocidente e Israel, e tentou acusar a Síria de participar do assassinato do primeiro-ministro do Líbano, Rafik Hariri. Os acontecimentos atuais provam que Israel foi o verdadeiro assassino de Hariri. A Síria não foi uma força de ocupação no Líbano, entrou no país a fim de ajudar os libaneses, e ajudou muito. Entrou a pedido do governo libanês. Existem laços familiares e sociais fortes entre os dois povos, e não há força nenhuma capaz de dividir a Síria do Líbano. Quando aconteceu a agressão israelense, a Síria abriu as portas e hoje há 150 mil libaneses em nosso país.ABr: Essa ligação forte não seria motivo para a Síria entrar no combate?Diab: A Síria está pronta para entrar assim que receber um pedido oficial do governo libanês. Hoje, o Hizbollah acha que não é necessário. As contas regionais têm que ser levadas em consideração.ABr: Quais contas?Diab: Existe a agressão israelense contra o Líbano, existe uma força de resistência combatendo, temos territórios ocupados por Israel [as Colinas de Golã, tomadas durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967], e queremos recuperar esses territórios através de um processo de paz. Mas se Israel agredir, temos que responder. Se a Síria entrar na guerra agora, o governo libanês pode considerar uma interferência. Alguns podem acreditar que queremos afundar o Líbano em mais crise e mais guerra.ABr: Parece haver um apoio velado à ofensiva israelense por parte de regimes mais conservadores, como da Arábia Saudita e do Egito. Isso ocorre? Atrapalha a resistência contra Israel?Diab: Hoje eles pedem cessar-fogo, mas no início realmente anunciaram que o Hizbollah não devia ter feito os seqüestros. Isso pode ter atrapalhado um pouco. Mas são posições de regimes, de governos. A população da Arábia Saudita, do Egito e de todos os países árabes apóiam a resistência.ABr: O que a Síria tem feito para ajudar os civis que fogem da guerra?Diab: As escolas e hotéis estão 100% ocupados na Síria. O Itamaraty também entrou em contato comigo para pedir que as autoridades facilitassem a passagem de brasileiros pelo território sírio para chegar à Turquia [de onde a maioria tem embarcado em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para voltar ao Brasil]. Hoje, um avião da TAM sai de Damasco com 250 brasileiros, e amanhã o mesmo avião traz outro grupo.ABr: E em relação aos libaneses, que são os mais afetados?Diab: A Síria oferece alimentação, hospedagem, todo tipo de ajuda.ABr: O senhor tem algum parente ou conhecido que tenha sido vítima desta guerra?Diab: Não, mas quando a gente vê na televisão crianças sendo retiradas debaixo de escombros, dói na gente, independentemente de conhecer ou não.ABr: E dói também ver israelenses sendo mortos?Diab: Sim, dói. Inocente é inocente, vítima é vítima em qualquer lugar do mundo.