Candidatos são convidados a assinar compromisso público contra o trabalho escravo

26/07/2006 - 16h41

Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Nove candidatos a cargos em disputa nas eleições de outubro já assumiram um compromisso público de atuar pelaerradicação do trabalho escravo no país, caso sejam eleitos. Eles assinaramuma carta elaborada pela organização não governamental Repórter Brasil,comprometendo-se a tomar medidas concretas para combater o mal.Por enquanto, nenhum dos presidenciáveisassinou o documento. Para o cargo de governador, apenas um candidato o fez. Odocumento aponta ainda compromissos como a renúncia do mandato, caso sejaencontrado trabalho escravo em propriedades do político.A carta foi lançada no dia 19 de junho e estásendo distribuída aos candidatos à Presidência da República e aos governos deestados como o Tocantins, Mato Grosso, Piauí, Maranhão e Pará. Candidatos acargos no Legislativo de todo o Brasil também vêm enviando as assinaturasespontaneamente.De acordo com o cientista político LeonardoSakamoto, coordenador da entidade, os estados mencionados são aqueles onde asituação do trabalho escravo é mais grave. “O objetivo é fazer com quecandidatos a cargo no Executivo e no Legislativo se comprometam a transformar otrabalho escravo em uma de suas prioridades num eventual mandato”, afirma ele.Sakamoto estima que muitas assinaturas aindadevem ser contabilizadas pela ONG, mas, para ele, a carta já vem tendo efeitopositivo. “Ela vem alertando candidatos. Muitos disseram que iam tomar cuidadocom relação a quem doaria dinheiro para suas campanhas”, disse. Outrocompromisso dos signatários é evitar que doações de campanha por parte deempresas e pessoas físicas que obtêm lucros a partir do trabalho escravoinfluenciem as políticas públicas de erradicação.A Repórter Brasil, em parceria com a ComissãoNacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), tornará pública alista dos que receberam a carta e a assinaram, bem como a dos que se negaram aassumir o compromisso.Sakamoto reconhece que a idéia de comprometeros candidatos por meio da carta tem limitações. Como exemplo, citou os casos doex-ministro da Fazenda, Antônio Pallocci, e do ex-prefeito de São Paulo JoséSerra. “Tanto um como o outro assinaram cartas-compromisso (de que nãoabandonariam seus mandatos), mas acabaram deixando as prefeituras deRibeirão Preto e de São Paulo. Isso prova que só a assinatura não leva àefetivação de determinada política.”O cientista político afirma que, mesmo assim, a carta serve como importante instrumento de cobrança para o eleitor. “Pode serútil para questionar o cumprimento daquilo que se  prometeu, para que, em quatro anos, o eleitor possa não repetir ovoto naquele candidato.”A Repórter Brasil atua na defesa dos direitoshumanos e faz parte da Conatrae, que é vinculada à Secretaria Especial deDireitos Humanos. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT),pelo menos 25 mil brasileiros trabalham em condições análogas à escravidão. A carta está disponível na página da entidade na internet: www.reporterbrasil.org.br