Países em desenvolvimento lamentam resultado de rodada sobre comércio mundial

24/07/2006 - 18h49

Edla Lula
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Com o impasse nas negociações sobre a agricultura, o G 20, grupo dos países em desenvolvimento liderado, dentre outros, pelo Brasil e pela Índia, publicou uma nota hoje (24) comentando a frustração sobre a reunião realizada no fim de semana em Genebra (Suíça), da qual participaram representantes do G 6, grupo dos seis países ricos e em desenvolvimento. “É agora praticamente certo que a OMC [Organização Mundial do Comércio] não completará a Rodada Doha ao final de 2006, conforme decidido na Reunião Ministerial de Hong Kong”, diz o texto.O G 20 afirma que o mundo perdeu a oportunidade para acabar com as distorções no comércio exterior, provocadas pelos subsídios oferecidos pelos países ricos a seus produtores agrícolas. “Essas políticas que há muito deslocam os produtores dos países em desenvolvimento - tanto nos mercados domésticos, como internacionais - continuarão a ameaçar os meios de vida dos agricultores do mundo em desenvolvimento”, diz a nota. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, também distribuiu comunicado à imprensaafirmando que "hoje todos são perdedores" com a falta de acordo.Os representantes dos países em desenvolvimento firmaram o compromisso de continuarem unidos no propósito de fortalecer o sistema multilateral de comércio. "O G-20 tem sido uma força importante nesta Rodada [Doha]. Ele foi criado para apoiar o Mandato de Doha e para promover a perspectiva do desenvolvimento nas negociações agrícolas. Seu compromisso e engajamento nunca faltaram. Suas propostas são tecnicamente sólidas e politicamente factíveis. Essas propostas permanecem como a melhor base para um compromisso justo e equilibrado” afirma o documento, assinado por representantes do Brasil, África do Sul, Argentina, Bolívia, Chile, China, Cuba, Egito, Filipinas, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nigéria, Paquistão, Paraguai, Tailândia, Tanzânia, Uruguai, Venezuela e Zimbábue.A Rodada Doha foi criada em 2001 com o objetivo de promover a abertura do mercado global para, especialmente, elevar a participação dos países em desenvolvimento no comércio exterior. A partir de 2003, na reunião ministerial de Cancun, quando os temas agrícolas e industriais foram introduzidos nas discussões, a rodada travou.O nó está na proposta de redução dos incentivos dados internamente aos produtores agrícolas e nas discussões sobre a redução das tarifas aplicadas por cada país para a entrada de produtos agrícolas e industrializados em seus mercados. A União Européia e o G 20 cobram dos Estados Unidos que baixem os subsídios agrícolas dos atuais US$ 20 bilhões para pelo menos US$ 12 bilhões anuais. Os Estados Unidos, por sua vez, se negam a reduzir tanto e exigem maior acesso de seus produtos aos mercados europeu e do G 20.Nem mesmo a manifestação dos presidentes do G 8, reunidos em São Petersburgo nos dias 15 a 17 de julho, impediu o fracasso de Doha. Naquela ocasião, os líderes dos oito países mais ricos do mundo publicaram nota em que recomendavam a seus negociadores que trabalhassem para o sucesso da rodada.