Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Salvador - A ausência de líderes políticos de diversos países do continente americano na 2ª Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora (2ª Ciad) foi criticada pelo relator especial das Nações Unidas sobre Formas Contemporâneas de Racismo, o senegalês Doudou Diene. “Eu não aprovo que a Organização dos Estados Americanos (OEA) não esteja envolvida, porque nós precisamos dos líderes deste hemisfério. Nesta conferência você tem muitos líderes africanos, mas com exceção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-ministra da Jamaica (Portia Simpson-Miller), houve uma grande ausência dos líderes políticos deste hemisfério”, criticou o relator da ONU. Diene disse que apesar de o Brasil ser o país com o maior número de afrodescendentes da diáspora, os líderes políticos de todo o hemisfério deveriam ter participado do encontro e se organizado, como fez a União Africana, que agrupa 52 países africanos. Ele advertiu que a Ciad deverá chegar ao fim com programas e ações concretas que reforcem a relação entre a África e os países da Diáspora em vários campos, como o intelectual, o cultural e o político. E elogiou a escolha do Brasil para sediar o encontro. “A escolha de Salvador para sediar a conferência foi muito importante, porque os participantes puderam sentir como é forte o impacto da diáspora africana na vida, no país e na identidade do Brasil”, afirmou. O relator das Nações Unidas propôs que assuntos como o racismo, a discriminação e a marginalização social sejam alguns dos temas escolhidos para a próxima conferência, que ocorrerá daqui a dois anos na África, em país ainda a ser escolhido. Diene apresentou em outubro do ano passado um relatório no qual afirma que o racismo no Brasil tem estruturas políticas, econômicas e sociais. Segundo ele, há uma aceitação muito grande da discriminação racial, que transformou os descendentes africanos e indígenas em marginalizados. Um ponto positivo é que, segundo Diene, “líderes regionais e o presidente Lula demonstram vontade política para reconhecer a existência do problema e combatê-lo”.“No meu relatório, eu concluí que existe uma profunda resistência em erradicar o racismo da sociedade. Existem forças econômicas, políticas e sociais que não querem que a situação mude. Isso requer dos líderes políticos um programa muito forte contra o racismo”, afirmou. O relatório de Diene sugere a criação de novas leis e programas contra a discriminação racial e a adoção de estratégias culturais e éticas. “Para combater o racismo num país em que a sua presença tem um grande impacto, a lei é importante, mas não é suficiente. É preciso tocar nas raízes profundas da discriminação, nos sentimentos e nas emoções, cultura, educação, mídia, em tudo”, afirmou.