Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Salvador - A aliança entre os governos, as instituições de ensino e a sociedade civil no resgate histórico da cultura africana foi o fio condutor da exposição das ministra da Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. Ao participar da mesa “O combate ao racismo, à xenofobia (ou aversão aos estrangeiros) e outras formas de discriminação: Durban + 5”, a ministra relembrou os discursos dos chefes de Estado africanos e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da II Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora (II Ciad). “Ficou evidente, de um lado, o resgate das histórias, mas também as ações dos governos na superação deste tão nefasto racismo e mecanismos que nos distanciaram ao longo da história”, disse. A ministra lembrou que a população brasileira é composta por vários grupos raciais e que o Brasil tem como marco uma escravidão que foi uma das mais perversas do mundo, durando quatro séculos no total (do final do século XV ao início do século XX). “O resultado se expressa através da não inclusão destes que são os descendentes de escravos, que somos nós, a maioria da população brasileira, cerca de 50% da população total, que é de 180 milhões de pessoas. Portanto, entre 80 e 90 milhões de brasileiros, esses são descendentes da mãe África e esta população vive ainda nos dias de hoje, quase 120 anos após a abolição da escravidão, uma condição de não estarem incluídos na ordem econômica e política vigente nesse país, uma condição de sub-cidadania”, afirmou Matilde.A ministra elogiou a experiência de vida do presidente Lula, como sindicalista, trabalhador e cidadão brasileiro, que não nasceu em berço de ouro. “Ele construiu a sua visão de mundo a partir da valorização da ação coletiva, da solidariedade e de ter o campo da política como o campo de solução para esses problemas, que somadas às questões da macroeconomia tornam cidadãos no Brasil pessoas de segunda classe, pessoas não consideradas a partir dos seus direitos instituídos pela Constituição”, afirmou.
Segundo Matilde, o atual momento brasileiro é de fortalecimento das ações de governo. “Considerando o necessário passo para que as políticas de governo tornem-se políticas de Estado, partindo do princípio de que as ações afirmativas podem ser e devem ser um caminho para encurtar a distância entre os descendentes de europeus, asiáticos, de países desenvolvidos, e os descendentes de africanos no Brasil e os povos indígenas”.