Angolana destaca importância do jovem na divulgação da história africana

13/07/2006 - 16h05

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Salvador - O papel do jovem foi destacado pela diretora do Arquivo Nacional de Angola, Rosa Cruz e Silva, como importante guardião da história africana e futuros transmissores dessa cultura, perdida no período colonial. “O homem sem história perde a sua condição humana. Assim se compreende o papel dos jovens que acompanham os mais velhos, os guardiões do tempo. O jovem aprende ritmos, o sentido do texto, e será no futuro o próximo guardião do tempo. Hoje, esses personagens fazem parte do que chamamos a fonte oral e que nos ajudam a compreender melhor o processo histórico, mesmo o que se reporta ao tempo mais antigo”.Rosa Cruz falou sobre a divulgação da história e da cultura africana pré-colonial no painel “História e memória da África e dos africanos da Diáspora: seu novo papel na educação”, realizado no segundo dia da II Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora (II Ciad), em Salvador.Rosa Cruz criticou a falta de atualização dos livros escolares em Angola, que segundo ela, permanecem os mesmos há 20 anos. “Lamentavelmente, os esforços dos historiadores não tiveram o impacto, que seria de se esperar, no que se refere à divulgação e, sobretudo, ao conhecimento desta mesma história por um público o mais abrangente possível junto das camadas mais jovens”, afirmou.A educadora brasileira Petronilha Beatriz Silva, da Universidade Federal de São Carlos (SP), falou da importância da lei brasileira 10.639, que obriga a adoção da história e da cultura afro-brasileira no currículo da educação básica no Brasil. De acordo com ela, essa nova política curricular atinge a identidade brasileira e os direitos de vários cidadãos brasileiros de conhecerem sua própria história.“Estudar a história e a cultura afro-brasileira é buscar o conhecimento nestas áreas para fortalecer a construção das identidades”, enfatizou Silva.A professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Teresinha Bernardo, lamentou que durante os últimos 100 anos os livros tenham visto o negro como destituído ou mercadoria. Ela lembrou que, mesmo escravizado, o negro continuou criando cultura, e ressaltou que o ensino dessa cultura pode ajudar os afrodescendentes a não se sentirem culpados pela sua cor. “A educação também transforma o afrodescendente, desenvolvendo e aprimorando a sua identidade”, disse.Uma exposição bastante aplaudida foi a da representante do Ministério da Educação da Nigéria, Becky Ndjoze-Ojo, que, vestida com os trajes típicos de seu país, falou da diferença do olhar que existe entre os africanos que vivem na África e os da diáspora, ou seja, os que estão fora do continente africano.“Houve um esforço calculado para distorcer a história da África”, lembrou o professor da Universidade Federal de Lagos, na Nigéria, Folorunscho Olanrewaju. Ele criticou o pouco uso do idioma nativo Iorubá em seu país. Segundo o acadêmico, não existe nenhuma tese de doutorado no idioma nativo da Nigéria.