Aline Beckstein e Lourenço Melo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – O documentário Falcão - Meninos do Tráfico, que mostra o universo dos jovens que trabalham no tráfico de drogas em diversas partes do país, foi o tema do encontro entre o presidente Lula e o rapper MV Bill, co-autor do filme.
No Palácio do Planalto, Bill afirmou conhecer as ações do governo na área social, mas defendeu políticas públicas mais fortes, para que cheguem às pessoas. "Parece que está caindo a ficha na sociedade para os problemas sociais", disse.
As políticas públicas, para o rapper, devem envolver "a estruturação da família, a melhoria no ensino, na educação, na cultura e no atendimento à saúde. A pobreza precisa ter mais acesso à informação, às transformações que ocorrem no mundo e receberem mais oportunidades na sociedade".
Nesta manhã, Lula falou na 16ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) que Falcão, exibido em emissora de canal aberto no último domingo, mostrou "coisas graves". Mas para o presidente "não é só a pobreza que leva as crianças a aquela situação, mas o processo de degradação da estrutura familiar que existe hoje". Para Lula, esse problema está relacionado às questões de educação e saúde.
Ao deixar o gabinete do presidente, Bill reiterou que apenas uma das crianças no documentário ainda está viva, "porque está presa", e agora ela é um outro tipo de vítima, no caso "de um modelo social discriminatório, que deveria ter começado a se desestruturar logo depois da abolição da escravatura".
O filme tem previsão de chegar aos cinemas em 12 de outubro, segundo informa a assessoria da organização civil Central Única das Favelas (Cufa), responsável pela produção. O documentário retrata a vida dos chamados "falcões", jovens encarregados de vigiar a entrada de policiais e traficantes na favela. Segundo a Cufa, a maioria dos adolescentes ganha no máximo R$ 500 por mês para trabalhar no crime.
A antropóloga Alba Zaluar, coordenadora do Núcleo de Núcleo de Pesquisa das Violências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), avalia que os adolescentes costumam dizer que ganham muito para justificar seu envolvimento com o tráfico e o abandono da escola. "Isso cria um certo glamour, que infelizmente ainda acaba atraindo mais jovens nas comunidades carentes".
De acordo com a antropóloga, o envolvimento de jovens com o narcotráfico quase não existia antes dos anos 80. "O tráfico de cocaína teve impulso no final dos anos 70. Nessa época, os traficantes aprenderam nas prisões táticas de guerrilha com presos políticos", disse ela.
"Depois, perceberam que era muito melhor colocar adolescentes para as funções mais visíveis como de aviãozinho [na cadeia organizacional do tráfico essa função é ocupada por um adolescente que repassa a droga ao cliente] pelo fato de não poderem ser responsabilizados criminalmente e pela maior vulnerabilidade a que estão expostos."