Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Cerca de 30 entidades de defesa dos direitos humanos realizaram na tarde de hoje (20) uma manifestação pública em protesto à absolvição do coronel da Polícia Militar de São Paulo, Ubiratan Guimarães, condenado em 2001 a 632 anos de prisão pela morte de 102 dos 111 prisioneiros assassinados no episódio que ficou conhecido como "massacre do Carandiru", em 1992.
O Tribunal de Justiça de São Paulo absolveu o coronel por 20 votos a 2 na última quarta-feira (15). A maioria dos desembargadores considerou válido o julgamento de 2001, mas decidiu reverter a decisão da juíza Maria Cristina Cotrofe, que era de condenação.
Os manifestantes discursaram na escadaria da catedral da Sé e, em seguida, se deitaram em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo fazendo referência aos 111 detentos mortos em 1992. Cada um deles portava um cartaz com o nome de um dos prisioneiros assassinados no episódio. Logo depois, aos gritos de "justiça", os participantes do ato afixaram os cartazes nas janelas do prédio do Tribunal de Justiça.
"Colocamos os nomes nas janelas já que os nomes dos mortos não estão nos autos do processo", disse o padre Júlio Lancellotti, um dos coordenadores da manifestação.
O presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, Hélio Bicudo, afirmou que encaminhará a decisão de absolvição da justiça à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. "Vamos pedir a ela que leve o caso para a Assembléia Geral dos Estados Interamericanos e que, examinando o episódio, imponha ou não sanções ao Estado brasileiro".
Para o coordenador do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, a decisão da justiça de absolver o coronel caracteriza uma situação de impunidade no país. "No Brasil, para ficar impune basta cometer um massacre e pode ter a certeza de impunidade. Por critérios meramente políticos, não técnicos, as pessoas não são jamais condenadas, como é o caso do coronel Ubiratan Guimarães", disse.
Em nota, as entidades exigiram o "fim da impunidade" e a prisão dos assassinos do episódio do Carandiru. "Essa decisão do judiciário paulista pela impunidade envergonha a sociedade brasileira e vai na contra-mão da história, uma vez que esse mesmo argumento de ‘estrito cumprimento do dever legal’ não inocentou os criminosos dos campos de concentração nazista; os autores do massacre de Ruanda, além dos acusados das mortes e desaparecimentos ocorridos na América Latina, durante a ditadura militar no Chile e na Argentina".