Tema ''estratégias imperiais e resistências dos povos'' se destacará, prevê organização do fórum

22/01/2006 - 20h07

Spensy Pimentel
Enviado especial

Caracas (Venezuela) - Iraque, Afeganistão, Palestina e Colômbia são alguns dos locais do mundo para os quais os organizadores do Fórum Social Mundial prevêem destaque na sexta edição do evento, que começa na terça (24), na capital venezuelana. Um ato público "contra a guerra e o império" está marcado para a abertura do fórum, e, entre os seis eixos temáticos propostos para as atividades deste ano, o terceiro deles, Estratégias Imperiais e Resistências dos Povos, deve ser o principal, segundo afirmaram hoje (22) os ativistas Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres, e o cientista social venezuelano Edgardo Lander, em coletiva à imprensa.

Os organizadores do fórum definem as estratégias imperiais a partir da idéia de um "neoliberalismo de guerra" e de uma "guerra de civilizações como nova estratégia de expansão imperial". O império, no caso, são, principalmente, os Estados Unidos, hoje a maior economia e a maior potência militar do mundo. Mas não apenas.

Nessa explicação sobre o terceiro eixo temático do fórum, no caderno de programação, também se fala na "mercantilização da vida e seus instrumentos jurídico-institucionais: livre-comércio, dívida externa, instituições financeiras internacionais, OMC, Alca e TLCs, corporações multinacionais", além da falência do sistema de governança internacional, como as Nações Unidas.

"Entendemos que não será possível conseguir um outro mundo possível se não combatermos o que são as políticas imperialistas de guerra, de concentração da riqueza, de controle da nossa biodiversidade, de toda essa expansão do mercado", disse Nalu Faria hoje.

Dentro do contexto específico relativo ao império dos Estados Unidos, os organizadores destacam a possível vinda a Caracas da norte-americana Cindy Sheehan, que se tornou famosa por seus protestos contra o atual conflito no Iraque, apos ter perdido o filho que foi enviado à guerra.

Os anfitriões do 6º Fórum Social Mundial também se apresentam como exemplo. Na coletiva, Lander lembrou que o evento representa uma possibilidade para os participantes de compreensão sobre as "ameaças que o império representa para a Venezuela e para o mundo".

O governo venezuelano acusa reiteradamente os Estados Unidos de apoiarem grupos de oposição, inclusive por ocasião de um golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez, em 2001. Recentemente, os EUA também têm vetado a venda de equipamentos militares brasileiros e espanhóis ao país. Os norte-americanos alegam que o equilíbrio militar na região poderia ser afetado.

Para evitar a venda, utilizam-se cláusulas contratuais: por exemplo, se uma empresa vender para um cliente não-aceito pelos EUA um avião que tenha um determinado componente de fabricação norte-americana, como o motor, o fornecimento dessas peças poderá ser interrompido.

Chávez, apoiado por Brasil e Espanha, se defende dizendo que os aviões e helicópteros, entre outros produtos pleiteados, servirão para atividades como a fiscalização de fronteiras e o combate ao narcotráfico e a tentativas de infiltração da guerrilha colombiana no território venezuelano.

O principal aliado dos norte-americanos na região, o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, já reconheceu publicamente que os equipamentos solicitados pela Venezuela não têm finalidade de aumentar o poder ofensivo do país. Mesmo assim, o veto norte-americano tem sido mantido.

A economia solidária, o não-pagamento da dívida e o controle sobre recursos naturais como a água são outros temas que, segundo os organizadores, também deverão ter destaque durante o fórum.