Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Em 2002, o embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Manuel Rocha, fez um "alerta" ao povo boliviano durante as eleições presidenciais. Disse que, se fosse eleito um "exportador de cocaína, esse resultado poria em perigo o futuro da ajuda dos Estados Unidos à Bolívia". Hoje (22), em seu discurso de posse, Evo Morales reagiu à afirmação e fez uma proposta ao governo norte-americano para o combate conjunto ao tráfico de drogas.
"Estamos dispostos a fazer um acordo com os Estados Unidos para lutar contra o narcotráfico, mas que essa luta não seja desculpa para que os Estados Unidos dominem nosso povo. Queremos diálogo de verdade, sem chantagem, nem condicionamentos", avisou Morales, que já trabalhou no cultivo da coca, planta usada pelos índios em rituais e também como alimento e remédio. "Estamos convencidos de que a cocaína faz mal. Mas a cultura indígena não é responsável pelo narcotráfico. Precisamos acabar com a cocaína, e não com os cocaleiros."
No discurso, Morales falou diversas vezes em dependência e autonomia para o Estado boliviano. Ele reconhece a existência de países grandes e pequenos, mas lembra que as nações são iguais no direito à soberania e dignidade. "Um povo que oprime outro povo não pode ser livre", afirmou o novo chefe de Estado da Bolívia. "Quero ser o melhor presidente dos bolivianos. Por que não dos latino-americanos? E vou governar tendo em mente o que o subcomandante Marcos (líder do movimento zapatista no México) costuma dizer: mandar, sim, mas obedecendo ao povo."