Rio, 18/12/2005 (Agência Brasil - ABr) - Além do aumento do número de adolescentes em conflito com a lei, outro fator preocupa as autoridades: é cada vez mais baixa a idade com que o adolescente se envolve com a criminalidade. A observação é do secretário estadual da Infância e da Juventude do Rio, Evandro Steele, um promotor com 30 anos de carreira na área criminal.
"A faixa etária está diminuindo. O caso dessa menina de 13 anos, do incêndio do ônibus, não é um fato totalmente episódico. A constatação é que vemos, cada vez mais, o envolvimento, até de crianças, na prática de crimes", afirmou Steele referindo-se à jovem que confessou ter ajudado a colocar fogo em um ônibus, no final de novembro, no Rio de Janeiro. Na ocasião, cinco pessoas morreram, entre elas um bebê de pouco mais de um ano, e 14 ficaram feridas.
Segundo Steele, está aumentando a incidência de atos infracionais entre crianças e jovens no início da adolescência, principalmente na faixa de 10 a 13 anos. Para ele, o fenômeno pode ser explicado em grande parte pelo aumento do uso de drogas. "Tem outro aspecto também que é extremamente relevante e que, muitas vezes, passa desapercebido, que é a questão do álcool. Está havendo um aumento do uso abusivo de álcool", destacou secretário.
Ele lembrou que existe ainda a questão social para explicar a situação. "Há um problema de má distribuição de renda e de crise social. Há uma série de fatores que estão criando uma situação preocupante", afirmou Steele.
Para ele, um dos principais desafios dos governos para acabar com a delinqüência infanto-juvenil é reduzir as desigualdades sociais. "Mas a gente não pode esperar por isso, porque isso não é feito em um passe de mágica. Essa transformação social é um processo que demanda luta e demanda tempo. Não é tão simples assim", disse.
Por isso, Steele acredita que, para aliviar o problema a médio e curto prazo, o Estado tem que buscar um sistema educacional mais eficiente, que abranja o jovem e a família. "Esse conceito da escola voltado exclusivamente para o jovem me parece absolutamente contra-indicado e superado. A família tem que se escolarizar também, para prepará-la ao desafio de formar o jovem".
O trabalho com a família também deve abranger um apoio social mínimo para que o jovem possa conviver em um ambiente familiar saudável. Sem isso, argumentou o secretário, o adolescente acaba convivendo com as mazelas da rua e acabará sendo encaminhado para o sistema socioeducativo.
"É o final da linha. É a UTI [unidade de terapia intensiva] dessa juventude que está se perdendo nesse quadro, que realmente é dramático. Para o poder público, federal, estadual e municipal, esse é um problema muito complicado de ser resolvido. Isso envolve desde a questão social até a relação dentro da própria família", concluiu Steele.