Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Cerca de 150 países deverão participar da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, que acontece em março em Porto Alegre. Durante sessão especial da 33ª Conferência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Roma, representantes do mundo todo manifestaram apoio à iniciativa brasileira de trazer o tema de volta aos debates. Apenas hoje (21), 30 países confirmaram presença no evento. A 1ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural aconteceu há 25 anos (em 1979), na Itália.
"A expectativa de todo mundo é que se recoloque a reforma agrária e o desenvolvimento rural da agenda internacional", relata o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, presente ao encontro que acontece em Roma. Também participa da reunião bianual da FAO o diretor do Departamento de Assuntos Sanitários e Fitossanitários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Odilson Ribeiro.
Cassel aproveitou a reunião bianual da FAO – que começou sábado (19) e vai até sexta-feira (26) para formalizar convites a ministros de agricultura de dezenas de países. Mas as autoridades não estarão sozinhas em Porto Alegre. "Será o primeiro evento da ONU [Organização das Nações Unidas] com participação ativa da sociedade civil", destacou o secretário em entrevista exclusiva à Agência Brasil, por telefone.
Além da reforma agrária, outro tema relevante que entrou em pauta hoje na reunião da FAO foi a questão de gênero no meio rural. "A discriminação da mulher é muito grande no meio rural, a violência é maior, elas têm menos oportunidades de trabalho. 75% da pobreza mundial está no meio rural e as mulheres são as mais pobres", resume o representante do governo brasileiro.
Em encontro paralelo à Conferência Bianual da FAO, representantes dos países de língua portuguesa discutiram uma política conjunta de cooperação técnica na área da agricultura familiar. Segundo Cassel, é possível que seja assinado algum acordo entre os países de língua portuguesa e a FAO em março de 2006, durante a II Conferência Internacional da Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural.
Guilherme Cassel conta que o discurso de combate à fome feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a comemoração dos 60 anos da FAO, há um mês, em Roma, tem influenciado os debates. "Toda a conferência é muito referenciada na fala do presidente", relata. Lula destacou que a fome tem que ser tratada como uma questão política, e não como mera estatística.
"A fome é sinônimo de falta de emprego, de renda, de educação, de saúde, de condições de vida dignas para dezenas ou centenas de milhões de brasileiros, de milhões em todo o mundo, e de políticas de segurança alimentar", disse Lula. "Temos que dar sentido de urgência à solidariedade internacional. Temos de fazer da luta contra fome e a pobreza um compromisso político e um projeto de vida. A FAO ocupa um lugar central nesse esforço. Continuaremos empenhados no fortalecimento da Organização e de suas práticas democráticas," concluiu.
A democratização da FAO é um dos principais temas desta 33 Conferência. Representantes de 187 países discutem uma nova estrutura para a organização, com a abertura de escritórios sub-regionais em várias partes do mundo. O pacote de reformas defendido pelo diretor-geral da FAO Jacques Diouf tem por objetivo tornar o órgão mais flexível e atento às necessidades de seus membros.