Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Além do desafio de conviver com a responsabilidade de lidar com a vida e a morte de pessoas, os profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da cidade do Rio de Janeiro lidam, em seu dia-a-dia, com adversidades como a dificuldade em encontrar vagas para seus pacientes nos hospitais da cidade.
De acordo com o médico Marlon Cunha, que trabalha socorrendo pacientes nos próprios locais da urgência médica, a liberação da entrada de pacientes nos hospitais é a principal dificuldade enfrentada por ele e seus colegas.
"O único hospital onde ainda não tive dificuldade foi o Souza Aguiar. Todas as emergências criam problemas para receber pacientes do Samu. Sempre colocam obstáculos e dificultam. Nós precisamos que o colega, nas grandes emergências, entenda que, na verdade, não estamos encharcando a emergência. Enquanto levamos um paciente, 19 deixaram de ir para o hospital", disse o médico.
No dia 19 de outubro, quando a reportagem da Agência Brasil e da Rádio Nacional do Rio de Janeiro acompanhava o trabalho do Samu, Cunha enfrentou um dilema, dentro da ambulância, ao ter que escolher um hospital para o qual pudesse levar um paciente em estado grave.
O médico José Franco Lattario, que trabalha fazendo o primeiro atendimento ao paciente pelo próprio telefone, confirma o problema e diz que o Samu só dará certo se houver contrapartida dos hospitais. "Junto com o Samu, tem que ter os hospitais de ponta trabalhando, com vagas. Tem que ter os postos de saúde trabalhando, com médicos atendendo. Tem que ter uma estrutura de intercâmbio entre o Samu/Emergência em Casa com os hospitais do Rio de Janeiro, tanto municipal, quanto federal e estadual", disse.
Lattario explica que há um outro problema: a falta de leitos nos hospitais, o que as ambulâncias tenham que esperar uma vaga para o paciente, a fim de que possam recolher sua maca e fazer novos atendimentos.
"Às vezes eu nego uma ambulância para um paciente, porque sei que a minha maca vai ficar presa no hospital. Os hospitais já não têm mais onde colocar o paciente. Então, o que ele faz? Toma minha maca. Aí, o paciente que eu levo fica na minha maca. E, se você liga para mim, eu não tenho ambulância para te atender, porque minha maca está presa", afirmou.
Segundo a assessoria da direção do Hospital Geral de Bonsucesso, unidade federal citada pelos médicos como problemática para receber pacientes do Samu, há uma situação de falência do sistema de saúde na região metropolitana fluminense. O próprio hospital enfrenta superlotação em sua emergência, que tem 35 vagas, mas, às vezes, chega a ter mais de 100 pacientes.
"A situação realmente é muito grave. Estamos falando de uma região do país que está sob decreto presidencial de calamidade, desde março. Esse decreto, na verdade, é o reconhecimento da falência do poder público em prover as garantias necessárias para o funcionamento desse sistema. Então, qualquer programa que seja inserido nessa rede de saúde pública sucateada, esse projeto fica comprometido", destacou o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze.