Presidente da Argentina critica reflexos do mercado sobre países pobres

04/11/2005 - 19h17

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, criticou hoje (4), na abertura da 4ª Cúpula das Américas, os reflexos do mercado sobre os países pobres e em desenvolvimento. "Não se trata de idéia ou política, mas de fatos. São os fatos que dizem que o mercado não reduz a pobreza, da mesma forma que se sabe que a educação melhora os índices de pobreza de um país", afirmou Kirchner. A cúpula reúne em Mar del Plata, na Argentina, representantes de 34 países.

Kirchner destacou a necessidade de os países buscarem alternativas aos modelos econômicos existentes. "A nossa experiência nos diz para não seguir a teoria da burocracia, mas deixar que cada país busque racionalmente seu caminho de inclusão social e econômica; uma nova estratégia de desenvolvimento do esforço cotidiano dos nossos cidadãos". Segundo ele, é "preciso gerar uma nova forma de desenvolvimento sustentável por meio da eqüidade, fundamental para a geração de empregos dignos".

O presidente argentino disse que, pela primeira vez em anos, seu país conseguiu diminuir as desigualdades sociais. "A Argentina está com grandes esforços voltados para o caminho do crescimento, de modo que conseguiu diminuir os índices de pobreza e indigência". De acordo com ele, nos últimos anos, 5,3 milhões de pessoas deixaram a pobreza.

Kirchner disse que a recuperação de seu país não se deve "nem a magia, nem a milagre", mas a "muito esforço e trabalho". Ele lamentou que durante o processo de recuperação econômica pós-moratória, a Argentina não tenha contado com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e criticou as barreiras impostas pelo sistema comercial mundial aos produtos agrícolas de seu país.

Para Kirchner, a integração entre os países das Américas só servirá se houver a assinatura de um convênio comum a todos os países. "Não pode ser uma via de mão única, de um só discurso", ressaltou. Ele lembrou também que "o problema de desenvolvimento dos países não deve ser abordado do ponto de vista dos desenvolvidos", mas do ponto de vista das diferenças entre os países para que "os mais fracos possam proteger suas fraquezas", como por exemplo, com a adoção de salvaguardas.

Outro ponto abordado por Kirchner foi a importância da liderança dos Estados Unidos. "Os Estados Unidos têm uma possibilidade indelével para dar forma e posição aos países", mas também criticou as lideranças políticas que "causam instabilidade aos governos" dos países vizinhos. "É um paradoxo em nome da democracia nós termos menos democracia", disse.

Kirchner defendeu ainda um posicionamento mais firme dos países latino-americanos. "Nossos povos e democracia já não suportam que nós continuemos falando em voz baixa, temos que falar em voz alta e buscar os pontos de resolução que nossos países precisam". Ele também criticou os atos de terrorismo, classificando-os como "criminais e injustificáveis".