Movimento indígena questiona ausência da Funasa em conferência regional

04/11/2005 - 18h38

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus – A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) não enviou representantes ao debate sobre direito à saúde que está sendo realizado hoje (4), em Manaus, na Conferência Regional dos Povos Indígenas do Amazonas e de Roraima. Desde 1999, o atendimento à saúde indígena passou a ser responsabilidade da Funasa, que o executa por meio de convênios com organizações da sociedade civil, principalmente associações indígenas.

"Isso demonstra um desrespeito aos povos indígenas e uma falta de compromisso conosco", protestou Bonifácio José Baniwa, diretor-presidente da Fundação Estadual dos Povos Indígenas (Fepi). "Por que a Funasa não está aqui? Quem vai me responder por que o medicamento chega vencido à maloca?", questionou o tuxaua macuxi Abel Barbosa, da aldeia do Flechal, localizada na terra indígena Raposa Serra do Sol.

"É difícil sabatinar colegas que não têm a responsabilidade de fato", lamentou Pedro Mendes, representante do povo Tikuna, do Alto Solimões. Os colegas a quem ele se referia são José Baniwa, o diretor-presidente da Fepi, e Clóvis Wapixana, membro do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Além dos dois líderes indígenas, compunha a mesa de palestrantes Slowacki Assis, diretor de Assistência da Fundação Nacional de Saúde, Funai – que ocupava, de maneira improvisada, a vaga do representante da Funasa.

"A Funasa estava convidada para abertura do evento e para ser uma das palestrantes no debate de hoje. Não houve justificativa oficial de sua ausência", declarou Izanoel Sodré, coordenador-geral de documentação da Funai. Segundo a assessora de imprensa da Funasa em Manaus, Cheila Franco, o convite para a conferência foi destinado ao diretor do Departamento de Saúde Indígena (Desai) da Funasa em Brasília, José Maria de França. "Ele entrou em contato com nosso coordenador regional, Francisco Ayres, que repassou à organização do evento a justificativa de que o convidado não poderia comparecer porque já tinha assumido compromissos anteriores", afirmou.

A Conferência Regional dos Povos Indígenas do Amazonas e de Roraima reúne 400 delegados de 37 etnias, desde o último domingo (30). Os debates vão até domingo (6) e acontecem em um hotel de selva afastado do centro de Manaus – a viagem de voadeira (canoa motorizada) até lá demora cerca de 1,5 horas. Na comissão organizadora, além da Funai e da Fepi, há três organizações indígenas: a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Coordenadoria das Organizações Indígenas do Amazonas (Coiam). O objetivo do evento é debater a política indigenista do governo federal e elaborar propostas a serem apresentadas na Conferência Nacional dos Povos Indígenas, que será realizada em abril de 2006.

Esta é a sexta conferência regional dos povos indígenas – as cinco anteriores aconteceram em Maceió (reunindo representantes de todos os estados do Nordeste), em Florianópolis (com indígenas dos estados do Sul), Dourados (apenas com pessoas do Mato Grosso do Sul), Pirenópolis (com representantes de Tocantins, Goiás e de parte do Mato Grosso) e Cuiabá (com participantes somente do Mato Grosso). Até o fim do ano, serão realizadas ainda mais três conferências regionais dos povos indígenas: em Porto Velho (reunindo Acre e Rondônia, de 20 a 27 de novembro), em São Vicente (reunindo São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, de 4 a 10 de dezembro) e em Belém (reunindo Pará, Amapá e Maranhão, de 12 a 19 de dezembro).