Documentos apreendidos pela PF comprovam ligação de fazendeiros com milícia no Paraná

27/04/2005 - 22h40

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O delegado da Polícia Federal Fernando Francischini, que depôs na Comissão Parlamentar Mista da Terra, informou que foram apreendidas notas que comprovam o pagamento, pelos fazendeiros da região de Ponta Grossa (PR), ao tenente-coronel Valdir Copetti Neves, da Polícia Militar do Paraná. Os valores são de R$ 2 mil a R$ 3 mil e eram calculados por cotas que variavam de acordo com o tamanho da fazenda. O total não chega a R$ 15 mil. Segundo Francischini, as reuniões eram feitas na sede do Sindicato Rural de Ponta Grossa e a secretária do sindicato receberia os valores, pagos em cheque e em dinheiro.

Fernando Francischini disse que a Polícia Federal já ouviu os fazendeiros sobre esses pagamentos. Os argumentos de praticamente todos eles, de acordo com o policial, são de que não tinham conhecimento da finalidade do dinheiro pago e de que o custo de uma empresa de vigilância era muito alto. Os proprietários rurais também alegaram à Polícia Federal que, por ser um vizinho, o tenente-coronel "era a pessoa mais indicada para dar assessoria na área de segurança".

Entre os documentos apreendidos durante a operação Março Branco, os policiais federais encontraram uma carta do diretor geral da União Democrática Ruralista (UDR), Tarcísio Barbosa de Souza, ao tenente-coronel Copetti Neves. Na carta, ele elogia a atuação do grupo nas operações de desocupação de fazendas da região. Durante o depoimento a CPMI, o policial federal fez questão de frisar que a operação Março Branco foi apenas mais uma das várias que vêm sendo realizadas pela instituição, com caráter eminentemente técnico.

Fernando Francischini disse ainda que as investigações não chegaram a qualquer indício de assassinato de trabalhadores sem-terra por parte das milícias. "No ano passado, a Polícia Federal atuou no noroeste paranaense, muito mais nos assentamentos do MST do que investigando milícias armadas", afirmou o policial.

O tenente-coronel também depôs na CPMI. Preso desde 13 de abril, Copetti Neves disse que é "um preso político", vítima de uma ação da Secretaria de Segurança Pública do Paraná. E não respondeu às perguntas dos parlamentares que envolviam as investigações sobre sua atuação, alegando o direito de se manter em silêncio e só responder em juízo, previsto na Constituição.

Copetti Neves entregou aos parlamentares um "dossiê" com uma série de denúncias contra o secretário de Segurança Pública do Estado, Luiz Fernando Delazari, e contra o MST. Questionado sobre a forma como obteve as informações, o tenente-coronel admitiu que os documentos eram "apócrifos e anônimos", apesar de incluírem alguns recibos e documentos assinados.