CPMI da Terra revela detalhes da investigação federal sobre milícias armadas no campo

27/04/2005 - 21h29

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Uma investigação da inteligência da Polícia Federal que começou no início do ano com um pedido do governador do Paraná, Roberto Requião, para apurar a atuação de grupos de extermínio na área rural do estado acabou revelando, no início deste mês, fortes indícios de crimes federais como tráfico internacional de armas, formação de quadrilha e porte ilegal de armamentos.

O delegado federal Fernando Francischini, responsável pela operação "Março Branco" que prendeu oito pessoas acusadas de fazerem parte de uma milícia para proteção de fazendas paranaenses, revelou à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a violência no campo que foram apreendidos armamentos pesados e várias munições em posse das pessoas presas.

A milícia, segundo o policial federal, era coordenada pelo tenente-coronel da Polícia Militar do Paraná, Valdir Copetti Neves. Entre os presos também estão três soldados da reserva da PM e "informantes" cooptados por Copetti Neves nos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Outras revelações, que relacionavam-se a quebra do sigilo telefônico do coronel Copetti, foram feitas em sessão reservada por determinação da justiça paranaense.

Na parte aberta à imprensa, Francischini disse que, durante a operação de prisão do tenente-coronel, foi encontrado em sua casa duas pistolas e uma espingarda de caça sem registro, além de uma espingarda calibre 12 registrada, mas não em nome do Copetti Neves. Na operação de busca feita na fazenda do militar foi encontrado um revólver calibre 38 "com o número de série raspado". Segundo o policial federal, além de armamentos, foram encontrados na casa do tenente-coronel e dos outros sete presos "grande quantidade de munição importada e outras de uso restrito que não poderiam estar de posse dessas pessoas".

Ele revelou aos parlamentares que os integrantes da milícia comandada pelo militar paranaense possuíam armamentos fabricados no exterior e munições brasileiras destinadas exclusivamente para exportação. O policial federal acrescentou que, no caso de algumas armas, constava a queixa de furto ou de extravio.

Além dos armamentos e munições, a operação "Março Branco" apreendeu documentos, inclusive no gabinete do quartel da Polícia Militar onde o coronel Copetti Neves despachava. Fernando Francischini disse que os três policiais militares que realizavam a vigilância diária das fazendas paranaenses faziam relatórios diários ao coronel das rondas e, até mesmo, "da passagem de armamentos".