Protesto contra homologação da Raposa Serra do Sol reúne 15 mil pessoas em Roraima

20/04/2005 - 20h37

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Cerca de 15 mil pessoas estiveram na tarde de hoje (20) no centro cívico de Boa Vista (RO) para protestar contra a homologação em terra contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Os números são da Polícia Militar da capital. O tenente Ronaldo Nascimento, comandante de policiamento, conta que não foi registrada nenhuma ocorrência durante a manifestação. "Estávamos com um efetivo de 80 policiais e nenhum deles precisou agir", afirma Nascimento. "Após o encerramento da manifestação, às 20h, estão programados alguns shows e, por isso, vamos manter o policiamento".

Agricultores, comerciantes e empresários começaram a chegar no centro cívico às 15h. Lojistas liberaram os funcionários e fecharam as portas mais cedo. Contrariando a expectativa dos organizadores do evento, não houve ponto facultativo para os funcionários públicos, que só chegaram ao protesto às 18h.

O presidente da Federação Associações Comerciais de Roraima, Derval Furtado, diz que a manifestação também contou com a participação de agricultores que vivem na Raposa Serra do Sol. "Eles não acreditam que o governo federal vai indenizá-los. São valores homéricos para a indenização do que foi construído, do que está plantado, do que está providenciado", avalia Furtado.

A Polícia Federal acompanhou o protesto em Boa Vista para garantir a seguranças dos índios. Desde a semana passada, o delegado da Polícia Federal Francisco Mallman coordena uma operação para proteger a comunidade indígena. Por precaução, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) fechou os portões nesta quarta. Coordenador do CIR, o índio Marinaldo Trajano revela que os indígenas não são contrários ao pagamento de indenizações para agricultores. Mas lamentam que muitos deles tenham poluído rios e feito desmatamentos, causando prejuízos incalculáveis para os índios.

"Até agora não recebemos nenhuma ameaça direta. Continuamos trabalhando normalmente, porém com medo. A pressão é muito grande. O nosso receio é que alguns pilantras da rua aproveitem essas manifestações para fazer besteira, chegar aqui, destruir o nosso escritório", diz Trajano. "Essa manifestação no centro cívico é uma contradição para o CIR. O que o governo fez é um dever constitucional, é direito nosso ter a terra demarcada."

A assessoria da Fundação Nacional do Índio (Funai) afirma que nos últimos cincos já indenizou na área da Raposa do Sol 60 famílias. Os agricultores que estão no local tem um ano para sair reserva. Pelos cálculos da Funai, os 40 pequenos proprietários e 16 rizicultores que vivem na região serão indenizados, principalmente pelas benfeitorias feitas.