Brasília, 19/4/2005 (Agência Brasil - ABr) - O presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Valdi Camarcio Bezerra, garantiu hoje que o órgão vem trabalhando em conjunto com a Fundação Nacional do Índio (Funai) para reduzir as precárias condições da saúde pública indígena no país. Ele admitiu que a Funasa possui limitações para implementar ações de saúde nas aldeias, mas rebateu as críticas de que a situação tenha se agravado depois que o órgão assumiu a gestão da saúde dos índios. "Antes, não havia uma política de saúde articulada, e agora nós temos. Antes de 1999, a Funai desenvolvia ações, mas não implementava as políticas. Nós precisamos trabalhar unidos para que possamos penetrar nas comunidades", ressaltou.
A morte de 21 crianças indígenas no município de Dourados (MS) por doenças decorrentes de desnutrição representa, na avaliação do presidente da Funasa, o quadro em que se encontra a saúde dos índios no Brasil. "A vulnerabilidade epidemiológica dos índios é muito grande. Temos deficiências da rede SUS (Sistema Único de Saúde) em vários municípios, na qualificação do serviço hospitalar, e especialmente problemas para a fixação de profissionais de saúde em áreas de difícil acesso", ressaltou.
Durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Bezerra relatou que existem pouco mais de 9 mil agentes de saúde para atender as 3.627 aldeias indígenas em todo o país. E que apesar do déficit de profissionais, as condições de saúde dos índios melhoraram nos últimos dois anos: "Temos hoje uma política nacional dos povos indígenas que atende as especificidades de cada etnia".
Bezerra informou ainda que em Dourados, onde desde o início de janeiro a Funasa montou uma estrutura emergencial para atender as crianças e índios vítimas da desnutrição, o número de internações caiu em 60%, assim como o índice de desnutrição infantil, que sofreu redução de 30%. E ressaltou: "As crianças desnutridas têm maior vulnerabilidade às doenças e mais demora na recuperação. Essa questão tem de ser analisada sob o ponto de vista da alimentação no local, da água tratada. Sem isso, a criança vai ficar desnutrida novamente", ressaltou.
Mesmo com as medidas emergenciais, o presidente da Funasa disse acreditar que novas mortes podem ocorrer em Dourados, uma vez que crianças continuam internadas em hospitais da região há mais de 40 dias sem evolução no quadro de saúde: "Continuaremos com essa preocupação."
Para a procuradora Débora Duprat, do Ministério Público Federal, a realidade da saúde pública para os índios é de "absoluta tragédia". No entanto, acrescentou, a implementação de políticas de saúde indígena é um passo inicial para reverter o quadro: "A morte das crianças não surgiu no atual governo ou com os dirigentes da Funasa. Nem surgiu com a Funasa, é bastante anterior."