Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao mesmo tempo em que as novas tecnologias ocupam mais espaço no cotidiano do país, milhões de brasileiros continuam excluídos das ferramentas tecnológicas já consideradas obsoletas pelas grandes empresas do ramo. Segundo estatísticas apresentadas pela Compera (empresa que atua no ramo da Internet móvel), existem hoje 12 milhões de pontos de Internet em todo o país, o que garante o acesso de menos de 10% da população à rede. "A idéia de democratizar a comunicação passa também por levar às pequenas comunidades computadores ligados à Internet", ressaltou Fabrício Bloisi, diretor da Compera.
Especialistas de vários países participam nesta terça-feira (7) do Seminário Internacional Saber Global 2004 Interação: Conhecimento e Desenvolvimento, realizado em Brasília. O encontro discute alternativas para garantir que as novas tecnologias conciliem a transmissão de informações com a promoção da inclusão social.
A falta de acesso às tecnologias se comprova no Norte e Nordeste do país, regiões onde mais de 40 milhões de brasileiros não têm acesso ao sistema informatizado de bancos por não receberem a renda mínima necessária para a abertura de conta-correntes. Na tentativa de reduzir esse quadro, o Sistema Nacional de Cooperativas de Economia e Crédito Solidário (Ecosol) implantou um projeto que produz a inclusão social por meio da tecnologia bancária.
As cooperativas associadas ao Sistema criaram o "cartão-solidário", que garante a moradores de uma comunidade efetuar compras em supermercados, lojas e pequenos estabelecimentos por meio de um cartão magnético. Cada um dos comerciantes instalou máquinas que recebem o cartão e, no ato da compra, verificam o crédito do consumidor. "O cartão possibilita que o cooperado possa ir ao comércio, comprar, e pagar apenas no final do mês, com o crédito de 30 dias. Ele não precisa colocar na caderneta ou pedir fiado para o comerciante. O comprador não precisa passar pelo constrangimento de pedir o crédito. O comerciante ganha, pois tem o risco de não receber quando vende fiado ou com cheque pré-datado", ressaltou o presidente da Ecosol, Gilmar Carneiro.
Segundo ele, a idéia do cartão solidário é garantir que o dinheiro circule na própria comunidade, garantindo à prefeitura a coleta de impostos, e aos comerciantes, crédito e lucro. "O associado ganha, o comércio ganha, a cooperativa ganha, e a comunidade toda ganha porque o dinheiro não sai daquela comunidade e não vai para outra cidade, circula ali mesmo. A prefeitura também se beneficia, pois todos pagam impostos na própria cidade. As grandes redes de cartão são necessárias para os grandes negócios, mas não para os pequenos", afirmou.
Atualmente, três municípios brasileiros já implementaram o cartão-solidário: Indaiatuba (SP), Chapecó (SC) e Senhor do Bonfim (BA). Até 2006, a meta é instalar o sistema em pelo menos mil municípios brasileiros, dando prioridade para as localidades que não possuem sistema bancário disponível à população.
Na avaliação de Gilmar Carneiro, as tecnologias da informação podem ser utilizadas em benefício das pequenas comunidades. "Não é adequar a população à tecnologia, mas adequar a tecnologia à população", ressaltou.