Pesquisa aponta insuficiência de crédito rural e safra pode cair, diz CNA

16/09/2004 - 18h00

Bianca Estrella
Repórter da Agência Brasil

Brasília - As linhas de crédito rural com juro equalizado de 8,75% oferecidas pelo Governo são insuficientes para atender o setor agropecuário. A conclusão foi obtida por meio de consulta do Projeto Conhecer da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), realizada entre julho e agosto, envolvendo respostas de 3.160 produtores rurais de todo o Brasil.

O presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Macel Caixeta, alertou: "A produção da próxima safra pode cair por falta de créditos ao produtor". Segundo a pesquisa da CNA, 86% dos produtores brasileiros precisam recorrer a financiamentos para realizar o plantio e comercialização da safra, mas são poucos os que têm acesso a crédito equalizado. Dos consultados, 62% conseguem menos da metade do que precisam para financiar a produção e acabam sendo obrigados a recorrer a linhas de financiamento com juros de mercado, mais caros.

Conforme apurou o estudo, 29% dos produtores pretendem reduzir a área plantada em relação à safra 2003/2004 caso não consigam financiamento com taxas equalizadas. "Nosso receio é que o produtor consiga o crédito, pegue o dinheiro e depois fique inadimplente no banco", disse o presidente da Comissão Nacional de Crédito Rural da CNA, Carlos Sperotto.

A CNA decidiu realizar a consulta aos produtores logo depois de o Governo anunciar o novo Plano Agrícola e Pecuário, em junho, quando foi divulgada a oferta de R$ 17,7 bilhões de crédito rural com juro equalizado para o novo ano agrícola, apenas 7,9% a mais que os R$ 16,4 bilhões do ano anterior. Macel Caixeta alertou que o total de recursos era insuficiente para atender o setor, avaliação que foi comprovada com os resultados da consulta do Projeto Conhecer. O trabalho apurou que 62% dos produtores consultados financiam menos do que metade do que o necessário a juro de 8,75% ao ano. Somente 10% têm acesso a mais de 90% dos recursos que precisam para custeio com crédito oficial.

"A consulta mostra como são importantes as linhas de financiamento com juros equalizados para a agropecuária. Fazer com que o setor trabalhe com linhas a juros de mercado pode levar a um novo ciclo de endividamento do setor", diz Carlos Sperotto. Ele destaca que no novo Plano Agrícola houve forte elevação do volume de crédito com juros livres, somando R$ 11 bilhões, 121% a mais que os R$ 5 bilhões, no ano passado. Sperotto argumenta que crédito a juros livres já podia ser obtido normalmente no mercado, mas ressalta que as taxas são muitos elevadas, incompatíveis com a atividade agropecuária.