São Paulo, 29/4/2004 (Agência Brasil - ABr) - O reajuste de 8,33% no salário mínimo ficou acima dos principais índices de preços do país. No entanto, o aumento de R$ 240 para R$ 260 está muito longe de recuperar o poder de compra perdido ao longo dos últimos 64 anos. Em 1959, com um salário mínimo, era possível comprar quase quatro cestas básicas. Hoje, a cesta consome 69% do salário. Para voltar ao patamar de 1959, o mínimo deveria valer, hoje, R$ 618,00, calcula o economista José Maurício Soares, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese).
Outro dado dá uma amostra das perdas sofridas pelos trabalhadores nas últimas décadas. De 1951 a 1960, um salário mínimo equivalia a 1.000 passagens de ônibus. Hoje, equivale a 153 passagens. Soares explica que a metodologia que garantia o poder de compra nos anos 50 era simples: o salário estava atrelado ao custo da cesta básica. Os gastos em alimentação não podiam ultrapassar 50% dos rendimentos do trabalhador. A fórmula foi abandonada a partir da década de 60. Desde então, não houve um índice padrão para reajuste. "O salário mínimo perdeu para a inflação", conclui Soares.
O economista diz que, se o mínimo tivesse acompanhado, por exemplo, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 3% ao ano, mais os reajustes que efetivamente sofreu em 64 anos, hoje valeria cerca de R$ 1.200,00. Segundo Soares, se o governo continuar seguindo a média deste último reajuste, utilizando, por exemplo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) como base, (o que representa um aumento de 1,40% acima da inflação), levará 49 nos e 10 meses para dobrar o poder de compra do salário mínimo. Já, se o governo optar em seguir a média dos últimos oito anos – 3% de aumento real ao ano - precisará de cerca de 22 anos para dobrar o poder de compra do mínimo e, assim, recuperar os níveis do começo dos anos 80.
"A única forma de recuperar o poder de compra é estabelecer metas para 4 ou 8 anos", garante o economista.
Conheça os índices
De abril de 2003 a abril desde ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e utilizado pelo governo para medição das metas inflacionárias, ficou em 6,10%. O IPCA mede a variação de preços de bens e serviços consumidos por famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Curiiba e Salvador, além do Distrito federal e Goiânia. Tomando-se esse índice como referência, o ganho real do salário mínimo foi de 2,11%
No mesmo período, o INPC, também apurado pelo IBGE nas mesmas regiões, que mede a inflação para famílias com renda entre 1 e 8 salários mínimos, ficou em 6,84%. Se o INPC for utilizado como referência, o aumento real do mínimo foi de 1,40%
Já o Índice de Custo de Vida (ICV), apurado pelo Dieese para famílias da cidade de São Paulo com renda entre 1 e 30 salários mínimos, foi de 6,17%. De acordo com esse referencial, o aumento real concedido ao salário mínimo foi de 2,04%.