Primeiro Diálogo Brasil debate crescimento econômico em rede nacional

29/04/2004 - 11h29

Juliana Andrade e Milena Galdino
da Redação da Agência Brasil

Brasília – O sistema público de televisão transmitiu, na noite desta quarta-feira, a primeira edição do programa Diálogo Brasil. Esta foi a primeira produção conjunta da Radiobrás, TVE Rede Brasil e Rede Cultura a ser transmitida, ao vivo, para 757 emissoras em canais abertos e fechados de todo o País.

O debate "A retomada do crescimento econômico" levou aos estúdios das três emissoras – em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro – os economistas Guido Mantega, Yeda Crusius e Antônio Carlos Porto Gonçalves e o empresário Paulo Skaf.

Já no início do programa, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, defendeu que a política econômica do atual governo "está no caminho certo". "A taxa de juros brasileira (cerca de 16%) é a menor dos últimos nove anos, mas a meta é chegar à média dos países em desenvolvimento do porte do Brasil", afirmou Mantega, antecipando que o governo deve anunciar o novo salário mínimo na manhã desta sexta-feira.

Na perspectiva do ministro, até o final do ano a taxa de juros nominal deverá ficar em 13%, enquanto a taxa real poderá ser de 7%. Segundo ele, foi preciso segurar a taxa Selic alta por um tempo por causa do momento delicado que o País vivia. "Tivemos uma crise econômica, enorme dívida pública e vulnerabilidade externa", disse.

No debate, o ministro ouviu as críticas do vice-presidente da Fundação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, para quem a taxa de juros não deve ser o mais importante fator a ser levado em conta na avaliação de retomada de crescimento. "O produtor brasileiro está sem fôlego e as empresas, de todos os portes, estão abarrotadas de problemas. Não é possível gerar desenvolvimento sem crédito e com alto custo", enfatizou.

Na mesma direção, o professor Antônio Carlos Porto Gonçalves, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, apontou que a dificuldade de produtores e empresários em cumprir todos os compromissos fiscais resulta em inibição do crescimento. "O investidor deixa com o governo uma enorme parte dos recursos. Depois, esbarra em dificuldades ambientais, custos e encargos trabalhistas, ameaças institucionais e dificuldades judiciárias", enumerou Antônio Gonçalves, que, como Skaf, acredita que a mudança na taxa de juros terá um efeito limitado no resultado final. "O governo precisa investir no Brasil", desabafou.

A outra convidada do programa, deputada Yeda Crusius (PSDB/RS), reforçou a afirmação do professor Antônio Gonçalves dizendo que, ao cobrar os impostos, o governo deve reinvestir no País. "Os impostos hoje vão para o pagamento de dívidas, para a questão previdenciária que nunca se resolve", lamentou a deputada e ex-ministra de Planejamento.

Guido Mantega reconheceu que a carga fiscal de 36% do Produto Interno Bruto (PIB) é alta, mas atribuiu a responsabilidade à política do governo passado. "Em alguns aspectos o Plano Real foi falho porque aumentou o endividamento externo, gerou déficit de transações correntes na ordem de U$ 200 bilhões e fragilizou o País", alegou.

Mesmo assim, Mantega garantiu aos colegas de debate e aos telespectadores que a redução da carga está sendo seletiva. "Mas ainda não deu para avaliar os efeitos da reforma tributária", comentou, demonstrando otimismo.

A segunda edição do programa Diálogo Brasil vai ao ar na próxima quarta-feira (5 de maio), às 22h30. Para participar, entre em contato por e-mail (dialogobrasil@radiobras.gov.br) ou por fax (61-327-4482).