Pochmann diz que governo perdeu oportunidade de aquecer a economia, ao fixar mínimo em R$ 260

29/04/2004 - 16h39

Andréia Araújo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Qualquer valor que o governo desse agora ao salário mínimo seria insuficiente, segundo o especialista em Economia do Trabalho, Márcio Pochmann, também secretário municipal do Trabalho do município de São Paulo. Mas, para ele, ao fixar o mínimo em R$ 260, o governo perdeu uma oportunidade de aquecer a economia, pois o impacto no mercado de trabalho e na capacidade de consumo da população será pequeno.

"Vinte reais a mais valem R$ 0,66 diários. Isso em outras palavras significa comprar três pãezinhos. Seu impacto será muito pequeno. Ao meu ver o governo perdeu uma oportunidade de aquecer a economia", ponderou.

Pochmann também questionou o impacto do mínimo nas contas dos estados e municípios. Levantamento por ele realizado revelou que no Brasil 325 mil pessoas recebem o mínimo, considerando os estados, municípios e a União. "Não acredito que terá repercussão desfavorável porque se trata de um contingente quase que insignificante no volume de funcionários públicos".

Menor do mundo

Pochmann afirmou que o Brasil paga o menor salário mínimo do mundo e lembrou que o poder de compra do mínimo tem caído ano a ano, desde 1964. "Em 1964 o salário mínimo tinha três vezes o poder de compra que tem hoje", disse.

Entre 1940, quando o mínimo foi criado, e 2000, o Produto Interno Bruto per capita cresceu cinco vezes, enquanto o poder de compra do salário caiu quatro vezes.

Para justificar sua posição, o pesquisador destacou o exemplo de países como a Inglaterra e os Estados Unidos, que tiveram um grande avanço em suas economias após valorizar o salário mínimo. "Na Inglaterra, por exemplo, a economia avançou quando foi instituído o salário mínimo, que não existia. Os Estados Unidos tiveram um aumento importante no salário mínimo durante o governo Clinton. No Brasil, temos que olhar com atenção para os obstáculos e resolvê-los", disse.