Brasília, 26/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Em nota divulgada hoje, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) repudia ocorrências de preconceito racial registradas no Brasil nas últimas semanas. Cita, entre elas, a prática de constrangimento contra seis mulheres negras, representantes de governos e de organizações nãogovernamentais, uma delas a ministra da Mulher e Coordenação da Ação Social de Moçambique, Virgília dos Santos Matabele. De acordo com a nota, também foram vítimas de ações de racismo o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Orlando Silva de Jesus Junior, considerado suspeito por um taxista e levado a uma guarita policial, e o dentista Flávio Ferreira Sant’Ana, assassinado por policiais militares depois de ser confundido com um assaltante.
A seguir, a íntegra da nota:
"A Unesco repudia as graves ocorrências de preconceito racial ocorridas no Brasil nas últimas semanas, entre elas a prática de constrangimento contra seis mulheres negras representantes de governos e de organizações não-governamentais, uma delas a ministra da Mulher e Coordenação da Ação Social de Moçambique, Virgília dos Santos Matabele. Também foram vítimas de inaceitáveis ações de racismo o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Orlando Silva de Jesus Junior, considerado suspeito por um taxista e levado a uma guarita policial, e o dentista Flávio Ferreira Sant’Ana, que foi assassinado por policiais militares após ser confundido com um assaltante.
Episódios inadmissíveis como esses ilustram o que enfrentam, diariamente, negros e negras vítimas do preconceito e da discriminação racial em todo o País. Tais práticas demonstram que o racismo permanece arraigado na sociedade, prejudicando milhões de afrodescentes. Como segunda maior nação negra do mundo, com 76 milhões de negros, o Brasil precisa encarar o problema de frente e implementar políticas que promovam a igualdade racial e melhores condições de vida a essa população, contribuindo para a redução dos conflitos inter-raciais, das ações de intolerância, da violação dos direitos humanos e da pobreza.
No Ano Internacional para Celebrar as Lutas contra a Escravidão e a sua Abolição, lançado pela ONU, a Unesco conclama toda a sociedade e os governos a se unirem em prol do fim da intolerância e da discriminação racial, da construção de uma cultura de paz e da garantia dos direitos humanos no Brasil e no mundo. É urgente que sejam intensificadas as ações afirmativas como forma de se reduzir as desigualdades entre negros e brancos. Só assim poderemos construir o futuro de paz, de equidade e de respeito às diferenças que tanto sonhamos".
Jorge Werthein
Representante da UNESCO Brasil